Nascido em Berlim, a 26 de novembro de 1918, combatente antifascista na Guerra Civil de Espanha (1936-1939), refugiado político em Portugal (1942-1946), jornalista na Alemanha depois da Guerra. Preso pela PVDE no Aljube (1942), onde trava relações estreitas com o comunista Joaquim Pires Jorge, passa grande parte deste período de refugiado com residência fixa na Ericeira, período da sua vida que relata no livro “Um Refugiado na Ericeira”.
Era filho de Richard Teppich e Gertrud Teppich, uma família judia alemã que viveu em sobressalto a ascensão do nazismo. Em 1933, ainda com 14 anos, é colocado a salvo pela família, que o envia para a Bélgica, para junto de uma irmã já casada na família Kempinski, ligada ao ramo da restauração, onde Fritz adquire a profissão de cozinheiro.
Em 19 de julho de 1936, um dia depois do “Alzamiento” dos rebeldes de Franco, Fritz, na altura apenas com 17 anos, parte para Espanha, disposto a combater os franquistas e pôr um travão ao avanço fascista. Dirige-se a S, Sebastian, onde se junta ao Batalhão da Juventude Socialista Unificada. Em breve ingressa no Exército Republicano, comandando uma bateria anti-aérea nas trincheiras republicanas, na defesa de Bilbao. Acompanha todas as vicissitudes adversas da Guerra Civil de Espanha, primeiro em Teruel e depois na Frente do Ebro. Obrigado a sair, em condições muito adversas pela fronteira Norte em 1937, volta a Espanha, pela Catalunha para prosseguir o combate. Voltará a sair no Inverno gelado de 1939, refugiando-se na Bélgica. Com a invasão do país pelos nazis, em 1940, é preso e enviado com outros refugiados, em particular comunistas (condição que Fritz tinha assumido durante a Guerra de Espanha) para os campos de internamento de Gurs e Le Vernet, no Sudoeste de França. Em início de 1941, Fritz é integrado na 306ª Companhia de Trabalhadores Estrangeiros, com destino aos Campos de Trabalho do Leste. Cerca de 120 dos seus companheiros de infortúnio partirão para esse destino, mas Fritz consegue fugir e, através da Espanha, entrar em Portugal pela fronteira do Caia (Elvas), em outubro de 1942.
A estadia em Portugal será marcada pela entrada no país em condição ilegal, com o apoio do HICEM (organização de apoio à emigração de judeus europeus) de Barcelona. Chegado a Lisboa, de camioneta, procura e obtém o apoio material da CIL (Comunidade Israelita de Lisboa) e instala-se clandestinamente, numa casa na Rua do Norte (Bairro Alto), onde usa o nome de Miguel Vieira Machado, nome com o qual se mantém em correspondência com a família, na Alemanha. No entanto, em breve será preso pela PVDE e colocado na prisão do Aljube, aí passando quatro meses, na companhia de vários refugiados e também de um companheiro que se tornará amigo em anos futuros – o comunista Joaquim Pires Jorge, também ele ex-refugiado em Espanha.
No primeiro trimestre de 1943, face ao desenrolar da Guerra e perante fortes pressões internacionais, muitos refugiados políticos presos pela Ditadura são libertados e colocados sob regime de residência fixa na Ericeira, onde já estavam cerca de 80 oriundos de uma primeira leva, instalada em 1 de janeiro de 1942, contingente que foi sendo aumentado até às várias centenas (800, segundo José Caré Júnior, num total de mais de 3000, em regime de rotação).
Fritz Teppich irá permanecer na Ericeira, com liberdade condicionada, entre início de 1943 e o Outono de 1946, altura em que é autorizado a sair para a Alemanha, a seu pedido. Três anos da sua vida controlados pelo agente da PVDE que para ali foi deslocado em 1942 para tomar conta da comunidade de refugiados, alguns deles judeus empenhados politicamente, como Teppich. Nas memórias escritas que nos deixou desse período, refere que a maioria dos refugiados eram judeus, a fugir às perseguições que sofriam no Centro e Leste da Europa, havendo igualmente um grupo significativo que tinha passado pela Guerra Civil de Espanha, como ele próprio: Karl Loch, John Popp, Brumme e Max Better, com quem convivia de forma mais próxima, e que eram antifascistas empenhados no combate ao nazismo, e que por isso mesmo a PVDE chegou a prender mais de uma vez.
Apesar de terem o apoio material da JOINT e da USC (organizações americanas de apoio aos judeus refugiados), através da CIL, no valor de cerca de 750 escudos mensais, todos eles estavam ansiosos por que a guerra terminasse para poderem voltar aos seus países, ou então para rumaram a três destinos favoritos: os EUA, o Canadá ou a Austrália.
A tranquilidade numa terra pacata como era a Ericeira daquela altura, não chegava para garantir uma vida sossegada, longe das famílias e sem saberem o que lhes teria acontecido. No final da guerra, quando volta à Alemanha, Fritz conhece a dramática situação da sua família: a mãe, as tias e um irmão, que se refugiaram na Holanda, tinham perecido em Auschwitz. Também a saída de Portugal lhes foi duramente negada por longo tempo, mesmo depois de terminada a Guerra. Fritz só saiu em 1946, mas alguns outros, vindos de Espanha, só vieram a sair do país, nessa altura expulsos pela Ditadura, em 1948.
A vida não lhes era difícil em termos materiais, porque 750 escudos era praticamente o dobro do salário de um trabalhador português naquela altura, responsável por toda a família. Porém, Portugal nunca constituiu um destino definitivo para a esmagadora maioria dos refugiados políticos que aqui chegou durante a Guerra. O país mostrava-se pobre, atrasado socialmente e sem qualquer possibilidade de mudança política a curto prazo.
Fontes: Memorial Mafra/ibliografia: Fritz Teppich: Der rote Pfadfinder – der abenteuerreiche Weg eines Berliner Juden durch das 20. Jahrhundert. Elefanten Press, Berlin 1996; Fritz Teppich (Hrsg.): Spaniens Himmel. Volksfront und internationale Brigaden gegen den Faschismus 1936–1939. Elefanten Press, Berlin 1996; Fritz Teppich: Um Refugiado na Ericeira, Coleção Lugares de Memória, Mar de Letras Editora, Ericeira, 1999