Nasceu em Achada Além, Santa Catarina, ilha de Santiago, Cabo Verde, a 14 de Maio de 1935. Preso em 1967 pela PIDE, com Fernando dos Reis Tavares e José Maria Ferreira Querido, esteve cerca de seis meses no Tarrafal. Julgados em S. Vicente, foram os três absolvidos por falta de provas.
O seu interesse pela política começou na adolescência, com a fome de 1947:
“Há coisas desse tempo de que nunca me esquecerei. Um dia chegou a nossa casa um menino que nos disse que tinha ido lá despedir-se porque ia morrer. (…) porque os pés já tinham começado a inchar. E realmente não sobreviveu, pouco tempo depois morreu. (…) Antigamente não se deixava criança olhar defuntos. O primeiro defunto que eu vi, ainda menino, foi um homem que morreu ali, naquela esquina. Ele veio, encostou, como ninguém o acudiu, amanheceu morto.”
A repressão, no seu caso, começou por se manifestar quando, em 1965, concorre a um lugar de professor e, embora fique bem classificado, não consegue o emprego por uma informação negativa da polícia política. Nesse mesmo ano adere ao PAIGC, num grupo coordenado por Felisberto Vieira Lopes. Juntar-se-á depois ao grupo coordenado por Fernando Tavares, “Toco”, vindo a ser preso em 1968, após a prisão deste, e no mesmo dia que outros membros desse grupo, como o seu parente José Ferreira Querido.
Interrogado e torturado na Polícia, no Plateau, e transferido depois para a Cadeia Civil da Praia, entra no Tarrafal, com Toco e José Querido, ainda na condição de preso preventivo, em Abril de 1970. No julgamento, realizado em S. Vicente, acabaram absolvidos por falta de provas.
Sobre o Tarrafal, de que já tinha ouvido falar durante a presença dos presos portugueses, lembra a cumplicidade de alguns guardas e, embora dizendo que o ressentimento foi diminuindo com o passar do tempo, não esqueceu o papel do diretor, “Dadinho” Vieira Fontes:
“Dele é mais difícil esquecer. Não tenho ressentimentos, mas por nada deste mundo quero voltar a vê-lo. Ele não é para estar no meio de nós.”
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.