Filho de Joaquim Gonçalves Diogo e de Ressurreição Nabais, nasceu em Casteleiro, Sabugal, a 15 de dezembro de 1939. À altura da prisão, pela PIDE/DGS, no dia 21 de janeiro de 1974, era pároco em Igreja Nova, Mafra. A prisão do Padre Ismael Gonçalves, acusado de “atividades contra a segurança do Estado”, vem a ocorrer no decurso das diligências policiais ocorridas em torno do desmantelamento e prisão dos membros de um “grupo subversivo que se diz de Acção Anti-Colonial”, na apreciação da polícia, e que esteve particularmente ativo na promoção da vigília pela Paz, na Capela do Rato, em Lisboa, nos últimos dias do ano de 1972 - tratava-se de um grupo vasto de católicos progressistas onde ponteavam, na altura, o Padre Felicidade Alves, o Padre Alberto Neto, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira e o ex-sacerdote Luís Moita.
Em 3 de dezembro de 1973, o Padre Ismael seria acusado pela PIDE/DGS de ajudar a produzir o BAC – Boletim Anti-Colonial – num copiógrafo que mantinha na sua casa paroquial, em Igreja Nova. Este corajoso comportamento do padre Ismael permitiu imprimir os 9 nove números do BAC que sairam em 1973/74, sob coordenação de Luís Moita.
A PIDE/DGS irá prende-lo a 21 de janeiro de 1974, recolhendo à Cadeia de Caxias, mas vindo a ser solto em 6 de fevereiro, mediante o pagamento de uma caução de 40.000$00 e, uma semana depois, o seu processo foi remetido ao Tribunal Plenário - só o 25 de abril impediu a sua condenação. Na busca realizada à sua casa a polícia política apreendera informação e propaganda anti-colonial, designadamente publicações “As Chacinas de Mucumbura”, “Os Acontecimentos do Rato” e “Baixas Militares Portuguesas na Guerra Colonial” e ainda o documento “A Paz é Possível” (cfr. ANTT, Arquivo PIDE, Proc. 544/73).
Vindo da paróquia de Belém, onde fora coadjutor do Padre Felicidade Alves, o novo padre de Igreja Nova passou também pelo Externato de Mafra e inscreveu-se como escriturário em part-time na CAPLCM (Cooperativa Agrícolas dos Produtores de Leite do Concelho de Mafra), sendo também atleta federado na equipa de futebol do Clube Desportivo de Mafra. Mantinha também uma forte participação no jornal “O Jovem”, um mensário publicado em Mafra desde o início dos anos 60.
Essa inserção na comunidade proporcionou-lhe uma significativa participação na transição do poder local para instâncias democráticas, a seguir à Revolução de 25 de Abril de 1974: em 26 de julho de 1974, o “Padre Católico” Ismael Nabais Gonçalves tomou posse como membro da Comissão Administrativa do Concelho de Mafra, permanecendo no cargo durante os anos de 1974 e 1975 - justificando a sua demissão, ocorrida a 29 de setembro de 1975, no documento “Razões duma Consciência Perplexa”.
Registara-se, entretanto, uma mudança na sua situação profissional, sendo agora professor, função que desejava abraçar em plenitude. Por outro lado, apresentava razões de inaptidão para o cargo, já que o seu “jeito [era] para trabalho e contacto com as populações, arrancando-as ao fatalismo e dando-lhes alguma perspetiva em ordem ao socialismo possível” (Vide “Razões duma Consciência Perplexa”). Ismael Gonçalves participou, posteriormente, como candidato independente, nas listas da APU e CDU ao Poder Local, onde desempenhou funções autárquicas.
Fontes: Memorial Mafra (Arquivo Municipal de Mafra, Comissões Administrativas, 1974, 1975, 1976). IAN/TT, Arquivo da PIDE RGP nº 29 394 e Proc. 544/73 – DS/C; Jornal “O Jovem”, Mensário regionalista, Mafra; Ismael Gonçalves, Razões duma Consciência Perplexa, Arquivo Municipal de Mafra; Testemunhos orais