Filho de Serafim da Paz Medeiros, um republicano que foi membro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Mafra em 1910, e de Palmira do Sacramento Esteves de Medeiros, nasceu em Alcácer do Sal, a 04-03-1903.
Miguel de Medeiros foi Tesoureiro da Câmara Municipal, de Mafra até 1935, quando foi expulso em função da pena que lhe foi aplicada pelo Tribunal Militar Especial. Passou a dedicar-se, então, à atividade comercial, com forte implantação em Mafra, com atividades em vários domínios, nomeadamente na distribuição de gás e combustíveis, de adubos e de materiais de construção.
Ainda jovem, com 32 anos, foi preso em 7 de junho de 1935 por “motivo político”, transitando da esquadra onde estava detido para a cadeia do Aljube, em 7 de agosto de 1935. A sua prisão esteve associada à preparação da designada “Revolta de Mendes Norton”, uma intentona que chegou a sair à rua em 10 de setembro de 1935, mas que foi facilmente anulada pelas forças fiéis à Ditadura. A revolta juntou setores de muito diversa extração política, todos mobilizados contra o Estado Novo fascista - desde os republicanos do coronel Ribeiro de Carvalho, aos integralistas de Francisco Rolão Preto - com o apoio operacional da ORS (Organização Revolucionária de Sargentos).
Miguel de Medeiros foi acusado de ter sido o elo entre o Comité Revolucionário de Lisboa e a organização de sargentos da ORS existente no Quartel da Escola Prática de Infantaria de Mafra, nomeadamente de ter entrado em contacto com o 2º Sargento Joaquim Rebelo, o 1º Sargento Joaquim Silvestre e o Sargento Manuel Justiniano Pereira, tendo ainda facilitado a ligação destes com o capitão do mesmo quartel Aníbal Marcelino. Simultaneamente, mantinha ligações com o revolucionário Roberto de Melo Queirós, um comerciante e influente agente revolucionário que sempre se manteve em clandestinidade e em ligação estreita com a Liga de Paris e com o ex-Primeiro Ministro Afonso Costa (Vide Proc. SC PC, 2183/55, 3 volumes, IAN/TT, Arquivo da PIDE).
Miguel de Medeiros foi julgado em Tribunal Militar Especial e condenado a “20 meses de prisão correcional e 600 dias de multa, à razão de um escudo diário”. Apesar de ter solicitado amnistia, na base do Decreto-Lei nº 26 636, de 25 de maio, não lhe foi concedida, pelo que só foi restituído à liberdade em 27 de fevereiro de 1937. Foi ainda expulso do Serviço Público, tendo deixado de exercer a função de Tesoureiro da Câmara Municipal de Mafra.
A primeira prisão marcou a sua vida de oposicionista ao regime para o resto da vida. Em 18 de março de 1948, voltou a ser preso e conduzido a uma esquadra “para averiguações”, embora se tivesse comprovado que não tinha nada a ver com a prisão da rede do Comité Local do PCP, totalmente desmantelada por esses dias de março de 1948, sendo restituído à liberdade em 22 desse mês.
Contudo, não se livrou de ser de novo preso em 9 de setembro de 1950, desta vez acusado de ser o organizador e recetador de fundos destinados aos “presos políticos”, que a PIDE interpretava como sendo fundos recolhidos a favor do PCP (Proc. nº 315/50). Foram presos os funcionários da Venatória Abílio Mendes e João Luiz, acusados de recolher os fundos na região da Malveira e Mafra, mas nada se provou contra Esteves de Medeiros, que foi libertado em 14 de setembro de 1950, poucos dias depois de ter sido preso.
Homem influente, em Mafra e em Lisboa, a sua casa foi, desde sempre, um local de apoio a ex-presos políticos, clandestinos ou fugitivos das cadeias e da PIDE. É o caso do apoio que foi dado a Jaime Serra, um dirigente comunista fugido da Prisão de Peniche em 3 de novembro de 1950, que alojou em sua casa no dia 6, e que depois transportou até Lisboa no dia 7 de novembro.
Fontes: Memorial Mafra (ANTT-Proc. 2183/35 e RGP nº 1364; testemunhos orais).