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Miguel Júlio Esteves de Medeiros *

Miguel Júlio Esteves de Medeiros
1364
Data da primeira prisão

Filho de Serafim da Paz Medeiros, um republicano que foi membro da Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Mafra em 1910, e de Palmira do Sacramento Esteves de Medeiros, nasceu em Alcácer do Sal, a 04-03-1903.
Miguel de Medeiros foi Tesoureiro da Câmara Municipal, de Mafra até 1935, quando foi expulso em função da pena que lhe foi aplicada pelo Tribunal Militar Especial. Passou a dedicar-se, então, à atividade comercial, com forte implantação em Mafra, com atividades em vários domínios, nomeadamente na distribuição de gás e combustíveis, de adubos e de materiais de construção. 
Ainda jovem, com 32 anos, foi preso em 7 de junho de 1935 por “motivo político”, transitando da esquadra onde estava detido para a cadeia do Aljube, em 7 de agosto de 1935. A sua prisão esteve associada à preparação da designada “Revolta de Mendes Norton”, uma intentona que chegou a sair à rua em 10 de setembro de 1935, mas que foi facilmente anulada pelas forças fiéis à Ditadura. A revolta juntou setores de muito diversa extração política, todos mobilizados contra o Estado Novo fascista - desde os republicanos do coronel Ribeiro de Carvalho, aos integralistas de Francisco Rolão Preto - com o apoio operacional da ORS (Organização Revolucionária de Sargentos). 
Miguel de Medeiros foi acusado de ter sido o elo entre o Comité Revolucionário de Lisboa e a organização de sargentos da ORS existente no Quartel da Escola Prática de Infantaria de Mafra, nomeadamente de ter entrado em contacto com o 2º Sargento Joaquim Rebelo, o 1º Sargento Joaquim Silvestre e o Sargento Manuel Justiniano Pereira, tendo ainda facilitado a ligação destes com o capitão do mesmo quartel Aníbal Marcelino. Simultaneamente, mantinha ligações com o revolucionário Roberto de Melo Queirós, um comerciante e influente agente revolucionário que sempre se manteve em clandestinidade e em ligação estreita com a Liga de Paris e com o ex-Primeiro Ministro Afonso Costa (Vide Proc. SC PC, 2183/55, 3 volumes, IAN/TT, Arquivo da PIDE). 
Miguel de Medeiros foi julgado em Tribunal Militar Especial e condenado a “20 meses de prisão correcional e 600 dias de multa, à razão de um escudo diário”. Apesar de ter solicitado amnistia, na base do Decreto-Lei nº 26 636, de 25 de maio, não lhe foi concedida, pelo que só foi restituído à liberdade em 27 de fevereiro de 1937. Foi ainda expulso do Serviço Público, tendo deixado de exercer a função de Tesoureiro da Câmara Municipal de Mafra.
A primeira prisão marcou a sua vida de oposicionista ao regime para o resto da vida. Em 18 de março de 1948, voltou a ser preso e conduzido a uma esquadra “para averiguações”, embora se tivesse comprovado que não tinha nada a ver com a prisão da rede do Comité Local do PCP, totalmente desmantelada por esses dias de março de 1948, sendo restituído à liberdade em 22 desse mês.
Contudo, não se livrou de ser de novo preso em 9 de setembro de 1950, desta vez acusado de ser o organizador e recetador de fundos destinados aos “presos políticos”, que a PIDE interpretava como sendo fundos recolhidos a favor do PCP (Proc. nº 315/50). Foram presos os funcionários da Venatória Abílio Mendes e João Luiz, acusados de recolher os fundos na região da Malveira e Mafra, mas nada se provou contra Esteves de Medeiros, que foi libertado em 14 de setembro de 1950, poucos dias depois de ter sido preso.
Homem influente, em Mafra e em Lisboa, a sua casa foi, desde sempre, um local de apoio a ex-presos políticos, clandestinos ou fugitivos das cadeias e da PIDE. É o caso do apoio que foi dado a Jaime Serra, um dirigente comunista fugido da Prisão de Peniche em 3 de novembro de 1950, que alojou em sua casa no dia 6, e que depois transportou até Lisboa no dia 7 de novembro.

Fontes: Memorial Mafra (ANTT-Proc. 2183/35 e RGP nº 1364; testemunhos orais).