Polidor de mármores na firma “Sérgio Leitão Coelho”, em Pero Pinheiro, líder operário da “Greve dos Mármores” (maio-junho de 1965) e militante de base do Partido Comunista Português desde 1962.
Filho de Ângelo Santos e de Olinda Maria, vivia, à altura da greve, em Lameiras (Pero Pinheiro). Depois da sua saída da prisão, fixou residência com a família no Casal dos Moinhos (Malveira Oeste).
As condições de trabalho das briteiras e fábricas de mármore de Pero Pinheiro tinham piorado com a exploração industrial montada por grandes empresas de construção civil, como a Pardal Monteiro e a SOMAPRE. Os marmoristas viviam na miséria, dados os baixos salários que recebiam.
Em Pero Pinheiro, o Sindicato (Sindicato Nacional dos Operários das Indústrias de Mármores e Cantarias) era acusado pelos marmoristas de ter uma postura colaborante com os patrões. Em 19 de maio, algumas centenas de operários dos mármores juntaram-se em frente do Sindicato exigindo um aumento de dez escudos diários. Dezenas de agentes da GNR contiveram a contestação com violência, de que resultaram agressões, ferimentos e prisões de manifestantes. A greve adquirira uma dimensão inesperada. Na segunda quinzena de maio de 1965, cerca de cinco mil operários das grandes empresas de mármores (SOMAPRE, Metalúrgica de S. João das Lampas, MOTRA do Sabugo, Cerâmica de Vale de Lobos, fábricas dos Galuchos e outras) estavam paralisadas. Um Comité de Greve muito ativo promovia campanhas de apoio às famílias, chamava as mulheres à luta e, em 3 de junho convocava uma “Marcha da Fome”, de Pero Pinheiro a Sintra, pela Estrada Nacional, sob a consigna de “Pão, Paz e Liberdade”. A luta fazia-se pela “recolha de solidariedade” para os marmoristas presos, pelo aumento de salários e “pela demissão dos lacaios do Sindicato”.
Nalgumas empresas, os patrões cederam, com pequenas subidas de salários. No essencial, a luta prolongou-se por todo o mês de junho, com as fábricas guardadas por GNR e agentes da PIDE, e com a prisão de muitos líderes operários.
Salvador, de alcunha “O coradinho”, já militante do PCP, tomara precauções. Entrara de baixa médica em maio, o que lhe permitia maior liberdade de ação e um alibi junto da GNR e da PIDE, caso fosse preso. De facto, foi preso em 27 de outubro de 1965, dois meses depois do ponto alto da greve, Salvador afirmaria à PIDE que não tinha feito greve, embora não pudesse esconder a sua presença pública na manifestação de 19 de maio, frente ao Sindicato (PIDE, Proc, E/GT, 8126, fl. 3). Quando foi preso, a PIDE apenas teve de confirmar as informações que já tinha em sua posse. Salvador tinha aderido ao PCP, pagava quota mensal de 5 escudos, distribuía o “Avante” e “O Militante” pelos companheiros marmoristas e procedia à angariação de fundos, estando diretamente ligado ao seu camarada marmorista Joaquim Manuel Preto. Haviam preparado cuidadosamente a greve em reuniões clandestinas na Serra da Carregueira e Salvador recebera de Manuel Mendes Colhe (ou Manuel Balsa) o contacto com um funcionário clandestino do PCP, com o pseudónimo "Serafim".
Foi julgado em Tribunal Plenário (03-03-1966) e condenado a 16 meses de prisão correcional e suspensão de direitos políticos por 5 anos, tendo cumprido o seu tempo de prisão entre Caxias e Peniche, onde chegou a 19 de março de 1966.
A greve dos marmoristas tinha tido repercussões nacionais e mesmo internacionais, mas arede local do PCP fora desarticulada pela PIDE.
Ainda assim, durante os anos seguintes, elementos da Amnistia Internacional, dirigiram-se ao Governo português a solicitar informações sobre as “medidas de segurança”, aplicadas a alguns responsáveis, que consideravam desproporcionadas para pessoas que apenas tinham cometido o “crime” de fazer uma greve (PIDE, Proc. 2357/65, 1º Volume, fl. 883).
Fontes: Memorial Mafra (ANTT-Proc. 2357/65 e RGP nº 27 423; Informação e propaganda sobre a Greve dos Mármores, Arquivo GES/PCP).