Uma ditadura que perdurou 48 anos sem alterações substanciais na sua caracterização, recorreu, naturalmente, à "dança dos nomes" para ocultar e seu imobilismo e, em simultâneo, para incutir em alguns (nacionais e estrangeiros) ideias sobre uma putativa evolução do regime.
Vejamos alguns exemplos:
Censura: de Comissão de Censura para Comissão de Exame Prévio (1972) Colonialismo: de Colónias para Províncias Ultramarinas (1951) Ditador: de Salazar para Caetano (1968) Partido único: de União Nacional para Acção Nacional Popular (1970) Polícia Política: de PVDE para PIDE (1945) e, mais tarde, para DGS (1969) Propaganda: de SPN-Secretariado da Propaganda Nacional para SNI-Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (1944) e, mais tarde, Secretaria de Estado da Informação e Turismo (1968) Regime: de Ditadura Militar para Estado Novo (1933) Tribunais Políticos: dos Tribunais Militares Especiais para Tribunais Plenários (1945)Este jogo de nomes serviu ainda para introduzir na respetiva legislação alterações funcionais que, muitas vezes, traduziram novos equilíbrios de força dentro do regime e, por outro lado, a substituição dos modelos internacionais adotados - veja-se, por exemplo, o caso da polícia política (PVDE/PIDE), ancorada no exemplo da polícia secreta italiana (a OVRA - Organizzazione per la Vigilanza e la Repressione dell'Antifascismo) e da polícia secreta da Alemanha nazi (a Gestapo - Geheime Staatspolizei, ou "polícia secreta do Estado") e que, mais tarde, vai buscar à Scotland Yard (Reino Unido) e ao FBI/CIA (Estados Unidos da América) a sua alegada "nova" inspiração conceptual, orgânica e metodológica.