Natural de Coimbra, nasceu em 20 de fevereiro de 1899, filho de António Casaleiro Pratas e de Maria de Carvalho Bacalhau.
Com a profissão de serralheiro de construção civil, trabalhava nos Serviços Municipalizados de Coimbra.
Segundo o Registo Geral de Presos da PVDE, deu entrada nessa polícia em 30 de janeiro de 1934, vindo do Comando da Polícia de Segurança Pública de Coimbra – no entanto, em carta que dirigiu ao ministro dos Assuntos Sociais, em 1976, Bernardo Casaleiro Pratas referiu como data da sua prisão o dia 21 de janeiro, data em que também foi preso naquela cidade Arnaldo Simões Januário, barbeiro, "chefe do «comité» revolucionário sindicalista de Coimbra". que viria a falecer no Campo de Concentração do Tarrafal a 27 de março de 1938.
Bernardo Casaleiro Pratas, militante da União Anarquista Portuguesa, foi acusado de participar numa reunião preparatória da "greve revolucionária" de 18 de janeiro desse ano e numa outra reunião que teve por objetivo preparar a destruição da central eléctrica de Coimbra.
O Diário de Lisboa do dia 18 de janeiro afirmava que "em Coimbra, rebentou uma bomba de madrugada, no posto transformador de corrente da União Eléctrica Portuguesa na Alegria, causando avarias." E acrescentava que "ficou a funcionar apenas a Central Térmica dos Serviços Municipalizados, não sendo fornecida, por isso, energia eléctrica para fora da cidade e tendo-se adotado outras medidas de economia."
No dia seguinte, o mesmo jornal noticiava que o atentado em Coimbra “lançou a cidade na escuridão" e que "a viação eléctrica só começou a funcionar depois das 11 e 30 e com o número de carros reduzido." E acrescentava: "O estrondo provocado pela explosão de duas bombas naquele edifício ouviu-se a oito quilómetros de distância."
Sob o título "Foram presos os autores do atentado de Coimbra" esse jornal do dia 19 (ver recorte anexo) anunciava, desde logo, sem especificar nomes, que "foram presos alguns operários, que recolheram incomunicáveis ao comando da P.S.P.".
As polícias agiam em consonância com o que o diretor da Polícia de Segurança e Defesa Social, capitão Agostinho Lourenço, declarara na própria madrugada de 18 de janeiro: "o governo estava informado daquilo que se preparava e que a projetada greve geral promovida pela Internacional moscovita de acordo com a Confederação Geral do Trabalho, devia estender-se a todo o país."
Dezoito dias após a sua prisão, Bernardo Casaleiro Pratas foi “julgado”, a 9 de fevereiro de 1934, em Tribunal Militar Especial, sendo condenado "em 20 anos de degredo, c/ prisão, em local a fixar pelo governo, multa de 20.000$00".
Em 8 de setembro desse ano, seguiu para a Fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira, Açores (ver fotografia de presos libertários na Fortaleza de Angra).
Em 23 de outubro de 1936, foi embarcado, no navio "Luanda" que partira de Lisboa com outros presos políticos, designadamente do 18 de janeiro e da Revolta dos Marinheiros, com destino ao Campo de Concentração do Tarrafal, onde chegaram, a 29 de outubro, os primeiros 152 deportados.
Não se conhece muito da permanência de Casaleiro Pratas no Tarrafal (ver em anexo fotografia de presos libertários no Tarrafal), sabendo-se que, em 1940, terá apresentado um pedido de libertação, provavelmente com vista a poder ser abrangido pela chamada Amnistia comemorativa dos Centenários.
Como refere o Registo Geral de Presos da PVDE/PIDE, foi "entregue em 31-12-1945 ao Ministério da Justiça", nos termos do artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 35:046, de 22 de outubro de 1945 (ver abaixo), que criou a PIDE, em substituição da PVDE, que dispunha que "serão entregues ao Ministério da Justiça a Colónia Penal de Cabo Verde e o Forte de Peniche".
Quando foi anotada esta farsa, Bernardo Casaleiro Pratas estava preso no Campo de Concentração há 9 anos e ali permanecerá mais 8 anos!
Ele e os seus companheiros libertários José Alexandre e José Ventura Paixão, todos acusados de participação na destruição da Central Elétrica de Coimbra, no 18 de janeiro de 1934, permaneceram no Tarrafal praticamente até ao seu encerramento provisório, estando então sujeitos a “um regime de encarceramento noturno, trabalhando durante o dia na padaria da vila do Tarrafal e só à tarde regressavam para pernoitar no campo” (*) – estes três presos libertários darão entrada na Cadeia do Forte de Peniche no dia 31 de dezembro de 1953.
Cerca de um mês depois, a 26 de janeiro de 1954, sai do Tarrafal o dirigente comunista Francisco Miguel Duarte, que será o último preso a ser transferido para as prisões do continente.
Em 16 de janeiro de 1956, Bernardo Casaleiro Pratas, fortemente abalado pela tuberculose que contraíra no Tarrafal, “foi removido” para o Sanatório Souza Martins, na Guarda (ver imagem), “onde ficou internado”, sob prisão, “como pensionista de 3.ª classe”.
Em 15 de novembro de 1956 – MAIS DE 22 ANOS APÓS A SUA PRISÃO EM COIMBRA – “foi-lhe concedida a liberdade condicional” pelo prazo de 3 anos e sob as seguintes condições:
a) Fixar residência no concelho de Coimbra, em local de que deve manter sempre informada a entidade fiscalizadora;
b) Dedicar-se ao trabalho;
c) Não se embriagar;
d) Não acompanhar gente suspeita, nomeadamente indivíduos politicamente exaltados;
e) Ficar sob a vigilância da P.I.D.E., Subdelegação de Coimbra, em cuja sede deverá apresentar-se todos os meses, em dia que para isso lhe seja fixado.
Após sair do Sanatório e ainda sujeito a acompanhamento médico, retomou a vida familiar em Coimbra.
Em 1976, Bernardo Casaleiro Pratas, já com 77 anos, dirigiu uma carta ao Ministro dos Assuntos Sociais, expondo o que vivera durante o tempo de prisão, referindo os maus tratos a que fora submetido, na expectativa de que o regime saído do 25 de Abril soubesse atenuar a situação de escassez económica familiar, em que ainda vivia. Por despacho do Ministro da Administração Interna do I Governo Constitucional, Coronel Costa Braz, ao abrigo do decreto 173/74, de 26 de Abril de 1974, Bernardo Casaleiro Pratas foi reintegrado na categoria de serralheiro principal dos Serviços Municipalizados de Coimbra, na situação de aposentado.
Faleceu em 12 de Agosto de 1989, aos 90 anos de idade.
(*) Tese de Doutoramento em Sociologia de Antónia Maria Gato Pinto, intitulada “Tarrafal: Resistir como promessa/ O poder de transformar uma experiência de opressão numa história de grandeza, Lisboa, 2019
Outros elementos de informação devem-se ainda ao trabalho persistente e inestimável de João Esteves, Silêncios e Memórias (silenciosememorias.blogspot.com) e de Helena Pato, Fascismo Nunca Mais (facebook.com/FascismoNuncaMais)