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José Inácio Francisco Cândido de Loyola

026657
Data aproximada da primeira prisão
1946

José Inácio Francisco Cândido de Loyola nasceu na aldeia de Orlim, Salcete, Goa, a 11 de Março de 1891 e veio a falecer em Lisboa em 1973.
A sua família estava conotada, há muito, com a afirmação politica de uma visão autonomista para a Índia sob dominação portuguesa, a qual esteve na origem do chamado Partido Indiano. Seus pais, Avertano Loyola e Maria Angélica da Conceição Gomes, eram figuras proeminentes desse Partido.
José Inácio, que viria a ser popularmente conhecido pelo nome de Fanchú, tinha o mesmo nome do seu tio, José Inácio de Loyola, advogado, editor de A Índia Portuguesa, órgão do Partido Indiano, feroz crítico do colonialismo português na Índia. Na altura em que nasceu, tanto o pai como o tio estavam exilados na Índia britânica, só tendo regressado a Goa em Setembro de 1891.
Fanchú revelou cedo a fibra de lutador. Os seus textos publicados no Jornal da Índia deram azo a que o Governador-Geral da colónia determinasse a suspensão do periódico. Loyola respondeu com um panfleto intitulado Carta Politica, dirigida ao Governador, onde prometia continuar o combate contra as arbitrariedades do regime colonial e pela liberdade. Estava-se em 1913. Fundou O Rebate, para ocupar o espaço do jornal proibido. O seu estatuto de “enfant terrible” da politica goesa ganhou forma nessa altura.
Mostrou reservas face à autonomia provincial atribuída pela Governo republicano à Índia portuguesa nos anos 1920, criticou a composição da Conselho Legislativo nela prevista e envolveu-se na eleição de um candidato alternativo como representante de Goa no Conselho Superior das Colónias, em 1926.
No final dessa mesma década, encontramos José Inácio Loyola desempenhando as funções de inspector das comunidades rurais e fortemente empenhado no tema do desenvolvimento agrícola como base da economia goesa. As dificuldades encontradas levam-no, em 1932, a lançar um grito de revolta, num texto intitulado Basta, onde se insurge conta a lentidão e os bloqueios do Estado português da Índia. Data igualmente desse ano um famoso discurso que proferiu junto à estatua de Afonso de Albuquerque, glosando a frase com que aquele estratega concluiu a sua última carta ao rei D. Manuel : “Quanto às coisas da Índia, não digo nada, porque ela falará por si e por mim”. A partir de então, multiplicou as advertências ao governo português sobre a inevitabilidade do caminho da revolta, caso persistisse na sua surdez face ao clamor pela liberdade.
Um desses alertas veio, em 1946, a originar a sua prisão e posterior deportação para Portugal. Publicou no Free Press Journal, em Bombaim, um periódico favorável ao movimento nacionalista indiano, um texto intitulado “The coming struggle in Goa”, um comentário aos apelos feitos pelo Partido Socialista Indiano, dirigido por Ram-Manohar Lohia, a favor da instauração de um regime de liberdades e direitos na Índia sob administração portuguesa. Loyola insurgia-se contra as leis que limitavam os direitos cívicos na Constituição portuguesa de 1933, considerando que qualquer restrição ao exercício das liberdades era intolerável.
Em novembro de 1946 foi condenado a quatro anos de prisão e a quinze de suspensão dos direitos políticos. Transferido para Portugal, foi encarcerado no Forte de Peniche. Em janeiro de 1947, terá ficado sob o regime de liberdade condicional, com residência fixada em Lisboa. Só foi autorizado a regressar a Goa, em 1958, onde permaneceu até ao momento da integração na União Indiana, em 1961. 
Os seus biógrafos registam os traços de um homem corajoso, profundamente apegado aos princípios da liberdade e da igualdade (pelos quais estava disposto a afrontar as injustiças, inclusivamente as decorrentes do próprio modelo social de castas indiano), um orador veemente e impressivo. Conhecendo as fragilidades do Estado colonial, Fanchú exortava os seus compatriotas a, enquanto reivindicavam um regime de liberdade, assumirem responsabilidades na melhoria das condições do seu próprio território, para o qual sonhava um futuro de autonomia, democracia e desenvolvimento.
Quando foi autorizado a sair de Portugal, em 1958, procurou o primeiro ministro indiano, Jawaharlal Nehru, em Deli. Saiu desse encontro profundamente desconsolado, convencido de que a integração de Goa na União Indiana seria uma questão de tempo. Lutara toda a vida por uma Goa para os goeses. Ao constatar a inviabilidade da sua utopia, afastou-se para Lisboa, numa espécie de exílio voluntário e tristemente saudoso.

Nota: Não há referência a José Inácio Francisco Cândido de Loyola no Registo Geral de Presos, nem na lista elaborada no âmbito do “Museu Nacional Resistência e Liberdade - Fortaleza de Peniche”. Porém, fazendo fé nas fontes bibliográficas consultadas, esteve de facto detido no Forte de Peniche, mas teria saído em 1947, permanecendo, porém, em “liberdade condicional” até 1958. 

Bibliografia:
Charles J. Borges (Ed.), Goa’s Foremost Nationalist José Inácio Cândido de Loyola. The Man and his Wriyings. New Delhi, Concept Publishing Company, 2000. Esta obra foi realizada no Xavier Centre of Historical Research de Goa e teve a colaboração de Charles Borges, Lino Leitão, Carmo D’Souza, Yona Loyola-Nazareth e Joseph Barros.
Edila Gaitonde, nas suas memórias As Maçãs Azuis. Portugal e Goa, 1948-1961, indica os seguintes nomes de detidos indianos que encontrou no Forte de Peniche em 1948: Dr. Inácio de Loyola, advogado, Tristão de Bragança Cunha, escritor, Laxmicant Bhembre, professor, Purshotham Kakodkar, político, e Dr. Rama Hedge, médico.


(Biografia da autoria de João B. Serra, publicada no Grupo Fascismo Nunca Mais)