Grande figura da Cultura nacional e, ao mesmo tempo, parte integrante da história da Resistência, Manuel da Fonseca tinha uma personalidade cativante, era um homem popular, que muito prestigiou o Alentejo.
A sua escrita era seguida de perto pela Censura. Vigiado e perseguido pela PIDE, tanto pelo que escrevia, como pela militância política, conheceu a brutalidade dos interrogatórios e dos cárceres fascistas.
Manuel da Fonseca nasceu em 15 de Outubro de 1911, em Santiago do Cacém, e aí se manteve até completar a instrução primária. Desde muito cedo se iniciou no mundo da leitura, por influência do pai. Na escola, cultivava a paixão pela escrita.
A continuação dos estudos levou-o a Lisboa onde frequentou o colégio Vasco da Gama, o Liceu Camões e a Escola Lusitânia e, mais tarde, a Escola de Belas Artes. Passava férias em Santiago do Cacém e, na cidade de Lisboa, dava longos passeios, a vida nocturna fascinava-o.
Teve os primeiros empregos no comércio e na indústria. Apesar de muito ocupado, (amante do toureio e do desporto), jogou futebol, interessou-se pela espada e florete, chegando a ganhar um campeonato de boxe.
Em 1925 publicou num semanário de província os seus primeiros versos e narrativas.
Para melhor se entender a personalidade de Manuel da Fonseca, há que referir o seu percurso de intelectual lutador, comprometido com as questões candentes do seu tempo histórico, bem como a sua condição de protagonista do Neo-Realismo português. Não pode deixar de ser salientada a sua intervenção política e a sua fidelidade ao ideal comunista.
Muito cedo fez a opção antifascista e aderiu ao Partido Comunista Português, partido ao qual se manteve fiel atá ao fim da sua vida.
Os primeiros contactos de Manuel da Fonseca com o PCP datam dos anos trinta, ou seja, de um tempo de juventude em que ele encetava um convívio, que se tornaria profícuo, com figuras ligadas às artes, às ciências e à vida política, como Bento de Jesus Caraça, o arquitecto Keil do Amaral, os pintores Maria Keil e Pavia, o escritor e crítico musical Manuel de Lima, Lopes Graça e homens de letras como Ferreira de Castro, Mário Dionísio, Armindo Rodrigues, Redol.Entra para o PCP na fase da «Reorganização de 1940/41, coincidente com o reacender da luta clandestina e da mobilização das massas contra o fascismo», com especial incidência no Alentejo e nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo.
Nome maior do neo-realismo português, Manuel da Fonseca afirma-se na literatura como romancista, poeta e cronista, começando a sua actividade literária, muito jovem, como colaborador de jornais e revistas – O Pensamento, Vértice, O Diabo, Seara Nova, Sol Nascente – contribuindo com crónicas e contos. Como cenário do que escrevia estava o Alentejo, as suas gentes, as suas vidas, as suas lutas _ Toda a sua obra é atravessada pelo Alentejo e pelo povo.
Fez parte do grupo do Novo Cancioneiro, tendo então uma intervenção social e política muito importante, retratando o povo, a sua vida, as suas misérias e as suas riquezas, exaltando-o.
O primeiro livro de poemas de Manuel da Fonseca, Rosa dos Ventos, e Planície, publicados respectivamente nos anos 1940 e 1941, são os primeiros passos da poesia neo-realista. A publicação de «Rosa dos Ventos» em 1940, altura em que o neo-realismo na poesia não conseguira ultrapassar a inconsistência de algumas tentativas exploratórias, veio viabilizar uma alternativa ao presencismo dominante. Da sua obra como romancista destacam-se Cerromaior (1943) e Seara do Vento (1958), duas das obras que melhor representam o neo-realismo português.
Escreveu vários contos: Aldeia Nova (1942), O Fogo e as Cinzas (1951), Um Anjo no Trapézio (1968) e Tempo de Solidão (1973) são os principais.
A actividade política de Manuel da Fonseca não cessou com o fim da resistência ao fascismo após o 25 de Abril. Continuou a ser um homem e artista interveniente, quer no seio dos intelectuais – comunistas, e não só – quer, por exemplo, como candidato da CDU por Setúbal, em 1983, nas eleições legislativas desse ano.
Manuel da Fonseca morreu a 11 de Março de 1993, mas a sua obra perdura como referência incontornável na história da literatura portuguesa.