Nasceu em Vila Nova de Ourém (Portugal) a 4 de maio de 1935, filho de Maria Alice Vieira e de Joaquim Mateus da Graça Júnior, tendo vivido em Luanda desde a infância. Fez-se angolano pela sua participação no Movimento de Libertação Nacional de Angola. Foi preso antes da guerra colonial, em 1959. Em 1961, voltou a ser preso e condenado a 14 anos de prisão, por «actividades subversivas contra a segurança externa do Estado», sendo enviado para o «Campo da morte lenta», no Tarrafal.
A sua obra foi precursora da literatura angolana e tem raízes na terra e na cultura do país. Luandino Vieira é também um marco revolucionário pelo movimento que criou em Portugal a favor da liberdade de expressão. A Literatura constituiu uma importante arma de combate no processo da luta de libertação nacional, porque foi a partir dos escritos de nacionalistas que muitos outros angolanos foram sensibilizados e mobilizados para a luta de libertação nacional.
José Vieira Mateus da Graça (com pseudónimo literário Luandino Vieira) nasceu em Lagoa de Furadouro, Vila Nova de Ourém, a 4 de Maio de 1935. Passou a juventude em Luanda, onde concluiu os estudos secundários. Durante a guerra colonial, combateu nas fileiras do MPLA, contribuindo para a criação da República Popular de Angola. Era um nome proscrito pelo salazarismo, cuja citação podia constituir delito de opinião. Em 1965, a simples notícia da atribuição de um prémio literário a José Luandino Vieira, pela Sociedade Portuguesa de Escritores, desencadeou uma das mais violentas ondas de repressão do salazarismo. Luandino Vieira cumpria, então, a pena de 14 anos de prisão no Campo do Tarrafal, em Cabo Verde, de onde regressou a Portugal em 1972, em liberdade condicional e com residência vigiada, em Lisboa. Viria a trabalhar com o editor Sá da Costa até à Revolução de Abril. Em 1975 regressou a Angola. Na sequência do reinício da guerra civil angolana, veio residir em Portugal. Radicou-se no Minho, em Vila Nova De Cerveira.
Ligado aos círculos culturais de Angola, foi preso pela primeira vez em 1959. Em 1961, com dois camaradas poetas, António Jacinto e António Cardoso, andou de cadeia em cadeia, em Angola. Em 13-08-1964 deram entrada no Campo de Concentração do Tarrafal.
Em 1965 a Sociedade Portuguesa de Escritores distinguiu Luandino Vieira com o «Grande Prémio da Novela» atribuído ao livro Luuanda. A SPE não tardou a ser extinta, a sua sede assaltada, vandalizada e encerrada pela PIDE, por despacho do Ministério da Educação. Os escritores Alexandre Pinheiro Torres, Augusto Abelaira e Manuel da Fonseca, membros do júri, foram detidos pela PIDE, pela ousadia de premiarem um escritor em choque com a ditadura salazarista.
A referência a este acontecimento foi proibida em todos os jornais. O Jornal do Fundão (JF), que divulgara a notícia, foi suspenso por cinco meses e depois submetido a censura especial; Jaime Gama, que escreveu um artigo sobre o assunto no jornal «Açores», (depois, «Açoriano Oriental»), foi detido. Cópias das primeiras provas tipográficas do Luuanda corriam desde 1963 nos musseques de Luanda, enquanto que, em Portugal, a edição que iria circular em 1965, adquirida pelos democratas, havia sido feita por agentes da PIDE, numa patifaria de objectivos inomináveis.
Luandino Vieira, que contava então apenas 29 anos, começara a sua actividade literária em O Estudante, órgão dos alunos do Liceu de Luanda. De 1957 a 1960 apareceu integrado numa camada de novos escritores angolanos que elaboraram «CULTURA», jornal literário da Sociedade Cultural de Angola: poemas, contos, ilustrações com a sua assinatura. Em 1960 publica o seu livro de estreia A Cidade e a Infância, tendo publicado depois Duas Histórias de Pequenos Burgueses (1961) e Luuanda (1964), que lhe valeu o Grande Prémio.
Na verdade, Luuanda, que traz histórias dos musseques e exibe uma linguagem inovadora, foi escrito (Luandino já preso) e o texto passado pelo escritor para a mulher, que o dactilografa para ser editado. E quando o prémio da SPE é atribuído, Luandino continua detido, não sabendo de nada. Desses tempos na prisão, ficaram notas várias, uma espécie de diário.
Sobre o livro, Alexandre Pinheiro Torres pronunciou-se no jornal Diário de Lisboa da seguinte maneira: «Três histórias que são (...) três obras-primas do nosso conto contemporâneo, e a enorme e imprevista revelação de um escritor de sensibilidade excepcional e de notável capacidade de criação dum estilo... É n’A Estória do Ladrão e do Papagaio, que desde já considero digna de figurar sem desdouro ao lado das melhores de José Cardoso Pires de Jogos de Azar, ou das melhores de Manuel da Fonseca de O Fogo e as Cinzas (e que maior elogio poderia eu fazer-lhe?), é nessa «estória» que Luandino Vieira nos dá prova das suas extraordinárias possibilidades».
O Jornal do Fundão publicou na edição de 23 de Maio de 1965, no Suplemento Literário Argumentos, dirigido por Alexandre Pinheiro Torres, a notícia sobre os Prémios da Sociedade Portuguesa de Escritores. Tinham sido distinguidos: Isabel da Nóbrega pelo romance Viver com os Outros (Prémio Camilo Castelo Branco – Romance); Luandino Vieira por Luuanda (Grande Prémio da Novela) e Armando Castro com A Evolução Económica de Portugal (Grande Prémio do Ensaio). A propósito do prémio atribuído ao escritor angolano Luandino Vieira, a notícia do JF informava que do júri tinham feito parte João Gaspar Simões, Augusto Abelaira, Alexandre Pinheiro Torres, Manuel da Fonseca e Fernanda Botelho.
Quando a Sociedade Portuguesa de Escritores lhe atribuiu o Grande Prémio de Novelística, o escritor encontrava-se em longa prisão no Tarrafal. Essa circunstância (a sua ligação ao MPLA) determinou a campanha repressiva do regime, então a braços com a guerra colonial.
Em 2009, Fernando Paulouro Neves, director do JF, escreveu em artigo nesse jornal: «A verdade, porém, é que as três narrativas de Luuanda eram «três obras-primas». A escrita de Luandino Vieira tinha consigo o futuro. Não só para a afirmação de uma literatura angolana, mas para o enriquecimento da língua portuguesa. À distância do tempo, Luuanda tem a frescura de uma linguagem inovadora, a música de uma oralidade tão próxima do universo africano, uma dimensão poética que faz dos contos de Luandino Vieira uma aventura de leitura estimulante. A obra posterior só veio confirmar o grande escritor. Sempre a condição humana no seu húmus, a batalha pela liberdade e pelo pão elementar, num compromisso que é sempre, por mais voltas que dêem, o essencial da acção criadora»
Em 2009, numa rara entrevista concedida ao jornal Público, Luandino confidenciou que as notícias do prémio chegaram tardiamente ao Tarrafal, pois o director do campo de detenção retardara a informação. Como o escritor estava impossibilitado de candidatar a obra, bem como o seu editor, foi com surpresa que percebeu que a obra fora, mesmo assim, distinguida, graças à intervenção do crítico literário Alexandre Pinheiro Torres.
Em 2006 foi-lhe atribuído o Prémio Camões, o maior galardão literário da língua portuguesa. Luandino recusou o prémio alegando «motivos íntimos e pessoais». Em entrevista posterior ao Jornal de Letras, esclareceu que não aceitara o prémio por se considerar um escritor morto e, como tal, entendia que o mesmo deveria ser entregue a alguém que continuasse a produzir. Contudo, publicou dois novos livros em 2006.
Actualmente, Luandino Vieira dedica-se, entre outras coisas, a animar uma pequena editora-livraria em Vila Nova de Cerveira, «Nóssomos», que edita jovens poetas e outros menos jovens.
Em Maio de 2015, a APE celebrou os 65 anos de Luuanda, numa cerimónia na Gulbenkian.
Entrevista de José Vieira Mateus da Graça (Luandino Vieira) realizada por São Neto, em Lisboa, a 10-11-2011, no âmbito do projeto "Angola – Nos Trilhos da Independência"