Um ano e poucos meses depois da “Revolução de 3 de Fevereiro de 1927”, a organização das oposições anti-ditatoriais era frágil, tanto no plano civil como no campo militar. A disposição para fazer sair a Revolução coube no exterior à “Liga de Paris” e no interior a um Comité Revolucionário.
Em Portugal, este comité revolucionário, mais moderado e menos ambicioso do que os exilados de Paris, era liderado pelo comandante Jaime de Morais, cuja linha estratégica apostava na maximização de todos os descontentamentos em torno de um programa mínimo que repusesse a Constituição e as liberdades fundamentais. Orientava-se para o golpe militar, com a substituição de Carmona por Norton de Matos, assegurando assim o empenhamento da Maçonaria e dos democráticos, numa linha de ação integradora de setores políticos menos radicais.
Com algumas variantes – no “interior” e no “exterior” – estas duas estratégias estarão sempre presentes entre 1928 e 1931, acentuando os liguistas a vertente de renovação da República e os outros a necessidade de, para derrubar a Ditadura, se ter obrigatoriamente de contar com todos os Republicanos, mesmo os mais conservadores; aqueles com quem António Maria da Silva sempre tentara a realização de um “Pacto”, dentro da linha de uma transição pacífica.
Os preparativos da revolução decorriam em Lisboa sob a direção do general Norton de Matos e do Comité Revolucionário encabeçado por Jaime de Morais – mas o certo é que Norton de Matos foi preso e colocado nos Açores “sob residência fixada” e, no dia 1 de maio, foi igualmente preso Jaime de Morais quando presidia a uma reunião do Comité Revolucionário do “interior” na residência do capitalista João Lúcio Escórcio.
Brigadas da Polícia de Informações e da PSP assaltaram a casa pouco antes das 23 horas e, segundo a nota oficiosa do governo, "tendo sido feitos dois tiros de dentro da casa, a polícia chegou a fazer uso das pistolas", mas "não houve ferimentos, porque a polícia fez fogo para o ar". Foram assim presos os membros presentes do Comité Revolucionário: capitães Nuno Cruz, António Augusto Franco, José Feliciano da Costa, Alfredo Chaves, Júlio César de Almeida, tenentes Eduardo Maia Rebelo e Manuel António Correia e os civis Camilo Zuzarte Cortesão, António Carvalho e José Carlos dos Santos, que seriam levados para a Penitenciária. A maioria viria a ser deportada para S. Tomé e Príncipe.
A proclamação "Ao País", assinada pelo Comité Revolucionário, dá conta da prisão de Jaime de Morais e de muitos dos membros do Comité Revolucionário no dia 1 de maio de 1928, apelando à Serenidade e à Confiança. Transcreve-se a referência a diversos oficiais então detidos e, como sublinha, o documento "Sim, algemaram-nos":
"Dr. Jaime de Morais, antigo Governador Geral de Angola e da Índia. Torre e Espada com palma. Valor militar com palma. Cruz de Guerra.
1.º Tenente Maia Rebelo, duas Cruzes de Guerra de 1.ª classe, um dos bravos do Rovuma.
Capitão Nuno Cruz, duas Cruzes de Guerra. Um dos heróis da Flandres.
Capitão Chaves, um dos mais valente oficiais da sua arma.
Capitão Franco, Torre e Espada e Cruz de Guerra.
Capitão César de Almeida, Cruz de Guerra.
Capitão Feliciano da Costa, antigo ministro e valoroso oficial.
Tenente António Correia, herói do 5 de Outubro. Torre e Espada.
Homens que nos campos da Flandres e na África ofereceram a sua vida em holocausto à Pátria (...) lá seguiram para o degredo, sem haverem sido sequer interrogados!"
Entretanto, decorriam em Paris negociações entre as várias correntes republicanas quando a revolta voltou a sair à rua, em 20 de julho de 1928.
Após a prisão do comité revolucionário, a proclamação revolucionária será assinada por Sarmento de Beires, em nome da Liga de Paris, por Filémon de Almeida, um antigo ministro democrático e pelo coronel José Magalhães, também antigo ministro do último governo da República.
A fronda, apoiada por liguistas e por correntes moderadas dos democráticos, unidos por objetivos mínimos de reposição da Constituição e das liberdades, acabou por avançar sob a direção de um comando de recurso.
Perante a decapitação do Comité no “interior”, operacionais de grande experiência vindos do exterior – tenente-coronel Norberto Guimarães, tenente Agatão Lança, entre outros exilados – viram a sua ação muito condicionada pelo desenrolar precipitado dos acontecimentos. Dão ainda um significativo contributo os estudantes que nessa Primavera de 1928 paralisaram a Academia do país na primeira grande greve que confrontou a Ditadura depois do “28 de Maio”.