José Diogo Ventura nasceu em Malange, a 25 de Outubro de 1928, filho de Diogo José Ventura e de Balbina Manuel de Sousa. Desde cedo se apercebeu da injustiça que se vivia em Angola: “Por toda a nossa vivência, dos nossos pais, dos nossos avós, a maneira como éramos tratados pelo sistema colonial. (…) Os portugueses chegaram a Angola em 1482 e só chegaram ao Brasil em 1502. Entretanto o Brasil evoluiu e Angola ficou. (…) Quando eles diziam que aqui também era Portugal, nós víamos que não era verdade.”
Em Luanda, onde fez o Curso Geral de Enfermagem, viria a aderir, em 1958, ao grupo independentista "Espalha Brasas" e, através deste, a manter uma ligação ao ELA, Exército de Libertação de Angola (*), dirigido por António Pedro Benge, Fernando Pascoal da Costa e Joaquim de Figueiredo.
Falava-se, nessa altura, numa Conferência Pan-Africana a realizar no Gana – que acedera à independência em 1957 – e os dois grupos decidiram que era altura de fazer um documento “para que essa conferência soubesse que Angola existia, que Angola também estava utando pela sua liberdade e contava com a solidariedade dos outros países já independentes”. O documento foi entregue a um jovem, José Manuel Lisboa, que deveria voltar ao Congo-Belga e entregá-lo a Armando Ferreira da Conceição, o membro do grupo que, em Leopoldville, fazia a ponte com o exterior.
Só que José Manuel Lisboa é preso a 28 de Março, quando se encontrava já no avião, o documento que escondera entre a roupa levada na mala foi descoberto e, no dia seguinte, começaram as prisões dos mais-velhos, membros do ELA. Ventura, como outros elementos do "Espalha Brasas", foi chamado à PIDE em Agosto e preso definitivamente a 20 de Outubro de 1959. Depois de uma passagem pela IV Esquadra foram enviados para a Casa de Reclusão, onde permaneceram até ao julgamento.
Condenado a quatro anos de prisão maior, permaneceria na Casa de Reclusão até 24 de Fevereiro de 1962, data em que foi enviado para o Campo de Concentração Tarrafal – de onde só regressaria, sob liberdade condicional, em 02-02-1969. Nesse período decidiu voltar a estudar e fazer a secção de Ciências do 5º ano – tendo obtido as notas máximas atingidas esse ano…
Foi no Tarrafal que se aproximou do MPLA: “Quando nós entrámos nesses grupos todos, nós não estávamos nem no MPLA, nem na FNLA, nem noutro. Nós tínhamos um sentimento nacionalista próprio. Eu, praticamente, ouvi falar do MPLA, da UPA, da FNLA na prisão. (…) Foi na cadeia que passei a ser simpatizante do MPLA a partir daquilo que ouvia, daquilo que eu lia, vi que estava mais próximo da minha sensibilidade.”
Os quase 10 anos da sua prisão foram, diz, um sacrifício que valeu a pena: “Acabou por estimular todos os outros grupos que ficaram no país, que não deixaram morrer a ideia da liberdade, do país livre, lutou-se até chegarmos à independência. (…) Um sacrifício que acabou com cinco séculos de ocupação, pelo menos deu início a isso. Não fomos só nós, todos lutámos, cada um no seu lugar, uns nos campos de batalha e nós…”
(*) Alguns, entre os quais o próprio José Diogo Ventura, admitem que a sigla "ELA" foi formada com as letras E, de Ernesto, pseudónimo de António Pedro Benge + L, de Luzenda, pseudónimo de Fernando pascoal da Costa + A, de Arnaldo, pseudónimo de Joaquim Figueiredo.
Texto e fotografia a partir de "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", de José Vicente Lopes, a quem agradecemos.
Entrevista de José Diogo Ventura realizada por São Neto em Luanda, a 11-04-2013, no âmbito do projeto "Angola – Nos Trilhos da Independência"