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António Carlos de Carvalho Ferreira Soares

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"Meu filho António Carlos estava no consultório com sua bata assim abotoada e cintada foi levado pela Polícia de Vigilância para a Casa-de-Saúde de Espinho, onde entrou morto, e com essa bata, e nesse estado, foi encontrado pelo juiz, delegado e escrivão no cemitério de Espinho - para a autópsia. Assim, autopsiado voltou a casa. Eu não pude ir receber-lhe o cadáver: ainda tenho um filho e uma filha...
No consultório, dizia eu, se sentara o meu filho e começara a auscultar uma doente ... da polícia quando o sujeito que (a) acompanhava, e deixara outros dois fora, empunhou numa das mãos uma pistola-metralhadora e crivou de balas o meu menino - uma através do tórax (só podia ser desfechada sobre quem estivesse sentado) perfurando o baço; outras no ventre, outra ou outras numa perna. Meu filho, sem poder defender-se, conseguiu ainda sair do consultório mas caiu a poucos passos.
"
Acorreu a irmã mas também contra ela dispararam ("veio-lhe um tiro através do vidro da janela, passou-lhe rente mas não lhe acertou. Não a deixaram acompanhar o irmão moribundo.") (*)
Depois, ainda com vida, no caminho para uma casa de saúde em Espinho, terá sido novamente alvejado com tiros de pistola metralhadora, catorze no total.
Os agentes da PVDE diretamente envolvidos no assassinato do Dr. António Ferreira Soares, em Nogueira da Regedoura, Santa Maria da Feira, foram Leonel Laranjeira, António Roquete e José Coimbra, obviamente absolvidos em Tribunal Militar, embora tudo indique que mais elementos da polícia tenham estado envolvidos.

Nasceu em Monserrate, Viana do Castelo, em 05-02-1903, filho do escritor e juiz António Ferreira Soares e de Inês Ferreira Soares.
Formado em Medicina, Ferreira Soares foi um colaborador da Seara Nova (com o pseudónimo António Carlos) que fez a passagem do racionalismo para o marxismo e o comunismo. Aderiu ao Partido Comunista Português ainda na década de 30, integrando o Comité Regional do Douro e empenhando-se na atividade da Frente Popular Portuguesa.
No início dos anos 40, foragido, trabalhou na reconstrução do PCP e do Socorro Vermelho Internacional no Porto, o que lhe valeu a perseguição pela Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE). Escapando sucessivamente às malhas da polícia política, foi julgado à revelia, já claramente identificado como Secretário do Comité Regional do Douro do PCP, e condenado a quatro anos de prisão correcional e perda dos direitos políticos por cinco anos. Forçado à semiclandestinidade, escondeu-se em casa da irmã em Nogueira da Regedoura, Santa Maria da Feira. Aí dinamizou a vida cultural e associativa local e deu consultas médicas gratuitamente, valendo-lhe a estima, admiração e apoio da população local - ficando conhecido como o "médico dos pobres".
A partir de uma série de prisões, em abril de 1942, de elementos do PCP, alegadamente envolvidos no assassinato de um industrial no Norte, a PVDE conseguiu novas informações sobre a organização do partido na região do Porto e sobre o paradeiro de Ferreira Soares - que seria assassinado no dia 4 de julho de 1942, aos 39 anos, por agentes da polícia política na sequência de uma cilada que lhe foi montada. 

(*) Citações da carta de seu pai, António Ferreira Soares, a Luís da Câmara Reys, datada das Caldas de S. Jorge, Feira, 5 de agosto de 1942.