Natural de Lisboa, nasceu a 04 de março de 1895, filho de Celestino Alberto Salgueiro Galvão e de Maria Malta Galvão.
Oficial do Exército, foi um dos apoiantes de Sidónio Pais e, mais tarde, esteve envolvido no golpe do 28 de maio de 1926, que implantou a Ditadura Militar. Diligente servidor do regime até aos anos quarenta, especialmente em matéria colonial (o seu primeiro livro, datado de 1929, tem o título “Em terra de pretos”), Henrique Galvão foi deputado à Assembleia Nacional (I e IV legislaturas) e distinguiu-se nomeadamente como Comissário-Geral da Exposição Colonial Portuguesa, realizada no Porto, em 1934, sendo nomeado, no ano seguinte, como primeiro Presidente da Comissão Administrativa da Emissora Nacional (1935-1941).
Africanista convicto, desempenhou variadas funções em Angola, chegando a ser governador de Huíla e escrevendo numerosa bibliografia sobre os costumes, a fauna e a geografia colonial. Foi ainda diretor da revista Portugal Colonial, membro da Comissão dos Centenários (1938-1940), diretor da secção colonial da Exposição do Mundo Português e Inspetor Superior da Administração Colonial (1941-1949).
Com data de 22 de janeiro de 1947 apresentou, na qualidade de deputado, à comissão de Colónias da Assembleia Nacional uma exposição que marcaria a sua dissidência com o regime e a sua política colonial - vale a pena atentar nos títulos dos vários capítulos desse documento: "A população foge em massa...; Decadência física dos povos; Assistência sanitária inexistente; Só os mortos estão isentos da compulsão ao trabalho; O fornecimento de trabalhadores; O contracto, este arrebanhar de gente...; O indígena, escravo da gleba; Colonialismo do Terreiro do Paço; Castigos corporais, violências físicas espírito de extermínio".
A partir do início dos anos 50, Galvão envolveu-se em conspirações militares para derrubar Salazar, designadamente no rescaldo da candidatura presidencial de Quintão Meireles em 1951, envolvendo António Sérgio, Carlos Sá Cardoso e o brigadeiro António de Sousa Maia.
No dia 7 de janeiro de 1952, foi preso pela PIDE por atividades contra a segurança do Estado, tal como o brig. Sousa Maia. De imediato, Galvão recolheu ao Depósito de Presos de Caxias. No dia 19 de janeiro, foi transferido para a Cadeia do Aljube, sendo levado para o anexo em 21-03-1952. Baixou ao Hospital Colonial em 03-04-1952, de que teve alta a 28 de abril.
Em 6 de junho de 1952, foi "posto à disposição do Ministério do Exército" e entregue às autoridades militares, recolhendo à Casa de Reclusão da Trafaria.
Julgado pelo 1.º Tribunal Militar Territorial de Lisboa em 31 de março de 1953, foi condenado na pena de 3 anos de prisão maior celular, em seis meses de multa à razão de 10$00 por dia e na suspensão de todos os direitos políticos por 15 anos - sentença confirmada pelo Supremo Tribunal Militar em 15-05-1953.
Em 22-06-1953, seguiu para a Cadeia do Forte de Peniche para cumprimento da pena. Em 02-10-1953, foi transferido para a Cadeia Penitenciária de Lisboa, "a fim de ser internado na Enfermaria". Em 13-09-1954, deu novamente entrada na Fortaleza de Peniche, sendo enviado para Caxias em 25-09-1954 "a fim de ser ouvido num processo em curso".
Restituído à liberdade, em 08-10-1954, por ordem do Ministério do Exército, foi preso pela PIDE no mesmo dia, recolhendo de novo a Caxias.
No dia 12 de outubro, baixou ao Hospital Miguel Bombarda, tendo alta um mês depois, no dia 13 de novembro, recolhendo de novo ao Depósito de Presos de Caxias. Em 10-01-1955, é transferido para a Cadeia do Aljube, sendo "posto à ordem dos Tribunais Criminais de Lisboa" em 09-03-1955, baixando ao Hospital de Santa Maria em 25-03-1955.
Ao longo de todo o seu tempo de prisão, conspirou ativamente, devendo-se-lhe o primeiro impulso para a futura candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República e, inclusivamente, consegue assegurar a impressão de panfletos contra Salazar.
Três anos depois, já com 63 anos de idade, foi condenado, em 18-03-1958, pelo Tribunal Plenário de Lisboa "na pena global de 15 anos de prisão maior a que acrescem as multas acumuladas materialmente, multas estas convertidas em 2 anos de prisão, na suspensão dos direitos políticos por 20 anos e no mínimo de imposto de justiça" - sentença "confirmada nos seus precisos termos e indeferida a reclamação" que apresentara.
A 20-03-1958, regressou à Cadeia do Forte de Peniche.
Em 14-10-1958, deu entrada no Hospital de Santa Maria, de onde se evadiu no dia 16 de janeiro de 1959 – uma semana após Humberto Delgado ter pedido asilo político na Embaixada do Brasil.
Cerca das onze da noite, esgueira-se do seu quarto, iludindo, com apoio de enfermeiras, a vigilância de um agente da PIDE e passa para uma sala contígua, de onde escapa pela janela, situada a uma altura de sete andares e, colado à parede do edifício, alcança outra divisão que considera fora do controlo policial. Com um bigode postiço, enverga um chapéu e um sobretudo e leva debaixo do braço um estojo semelhante ao usado pelos médicos. Percorre assim as escadas do Hospital, praticamente deserto àquela hora. Em liberdade, procura refúgio em várias casas, ao mesmo tempo que se corresponde com Delgado e escreve vários panfletos antissalazaristas. Cerca de um mês depois, procura asilo na Embaixada da Argentina, de onde embarcará para Buenos Aires no dia 13 de maio de 1959 – o governo de Salazar tivera de ceder à saída de Delgado e de Galvão para o exílio.
Logo estabeleceu ligações com a oposição portuguesa exilada, designadamente com Delgado. Fixado em Caracas (Venezuela) nos finais de 1959, aí constituiu o Directório Revolucionário Ibérico de Libertação (DRIL), organização antifascista que congregava exilados espanhóis e portugueses em luta contra as respetivas ditaduras.
Em janeiro de 1961, um comando do DRIL chefiado por Henrique Galvão tomou de assalto o paquete Santa Maria – era a “Operação Dulcineia”, que ostenta nova designação para aquele navio, “Santa Liberdade”. Humberto Delgado apoia a operação e desloca-se ao navio, mas, logo aí, transparecem as divergências entre ele e Galvão – que irão ganhar repercussão pública.
Ainda hoje se desconhecem com rigor os planos de Galvão, mas não há dúvida que chegar a Luanda seria o objetivo principal, motor da ação que visaria derrubar os governos de Lisboa e Madrid. O certo é que o navio acaba por se dirigir ao Recife, no Brasil, onde Galvão e os seus companheiros pedem asilo político.
A partir desse momento, consuma-se a rutura com Humberto Delgado. Henrique Galvão assume um ferrenho posicionamento anticomunista e organiza, sempre irrequieto, a “Frente Antitotalitária dos Portugueses Livres no Estrangeiro". A partir de Marrocos, com a participação, entre outros, de Palma Inácio, Camilo Mortágua, Helena Vidal e Amândio Silva, lança a “Operação Vagô”, envolvendo o desvio de um avião da TAP que fazia a ligação entre Casablanca e Lisboa e o lançamento de milhares de panfletos sobre Lisboa, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro.
Entretanto, os tribunais da ditadura condenam Galvão a uma pena de 22 anos de prisão pelo assalto ao “Santa Maria” e, mais tarde, a uma pena de 23 anos pelo assalto ao avião da TAP…
Politicamente isolado, vai ainda a Nova Iorque, em dezembro de 1963, depor como peticionário na ONU sobre a política colonial do regime português. Degrada-se, entretanto, a sua condição mental e vem a falecer no dia 25 de junho de 1970, em São Paulo, no Brasil.
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Dedicaremos proximamente artigos mais desenvolvidos às operações “Dulcineia" e “Vagô”.