José Garcia Marques Godinho, filho de José Garcia Godinho e de Joaquina Victória Marques Godinho, nasceu em Galveias, Ponte de Sor, no ano de 1881. Concluiu o Curso de Infantaria da Escola do Exército em 1904 e, no ano seguinte, foi promovido a alferes. Seguiu-se a promoção a tenente em 1909 e a capitão em 1915. Depois da passagem pela guarnição de Abrantes, integrou o Corpo Expedicionário Português (CEP), recebendo a Grande Cruz de Guerra pela sua missão em França durante a I Guerra Mundial.
Seguiram-se promoções a major, tenente-coronel e coronel.
Já como brigadeiro, foi nomeado comandante militar dos Açores durante a II Guerra Mundial, período que marca o corte com o Estado Novo e que terá consequências terríveis para José Garcia Marques Godinho. Abre uma contenda com o então subsecretário de Estado da Guerra, Fernando Santos Costa, cuja germanofilia Godinho denuncia.
Em irreversível rota de colisão com o regime, integra a Junta de
Libertação Nacional e é um dos líderes da Revolta de 10 de abril de 1947, juntamente com os também oficiais generais Mendes Cabeçadas e António Maia. A «Abrilada», que visava a deposição de António de Oliveira Salazar, com a conivência do presidente da República, Óscar Carmona, não se concretiza, mas a repressão será violenta e o general Godinho será preso a 21 de julho de 1947, um mês depois de ter sido reformado compulsivamente.
Padecendo de sérios problemas cardíacos, dos quais as autoridades eram conhecedoras, não lhe são prestados os cuidados médicos que o seu débil estado de saúde exigia. Preso no Hospital Júlio de Matos – onde haviam sido colocados outros militares envolvidos na revolta – Garcia Godinho foi transferido, depois de dois enfartes do miocárdio, para a Presídio Militar da Trafaria, por ordem do já ministro da Guerra Santos Costa, ao contrário do recomendado pelos pareceres médicos. Somando-se aos graves problemas de saúde uma série de maus-tratos prisionais, José Garcia Marques Godinho é transferido da Prisão da Trafaria para o Hospital Militar, na Estrela, em Lisboa, onde acabaria por morrer no dia 24 de dezembro de 1947, aos 66 anos.
A família exigirá um inquérito às condições da morte e apresentará uma queixa acusando Santos Costa do homicídio voluntário e premeditado do general. A viúva, Palmira Marques, foi presa devido a esta denúncia e os filhos ameaçados de várias represálias. O advogado da família, Adriano Moreira, futuro ministro do Ultramar, seria detido brevemente na Cadeia do Aljube. A sanha de Santos Costa prender-se-ia com o facto de o general Godinho ter em sua posse cartas, datadas do período em que fora comandante militar dos Açores, atestando a atividade pró-Eixo do então subsecretário de Estado da Guerra durante o conflito mundial.
Texto de "Ficaram pelo caminho", edição do Museu do Aljube, Resistência e Liberdade