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Vasco de Oliveira Granja

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Data da primeira prisão

Destacou-se na divulgação a que se entregou, ao longo de décadas, da banda desenhada e do cinema de animação em Portugal. Tornou-se conhecido dos portugueses através da televisão, ao manter na RTP, durante 16 anos, um programa regular (mais de mil emissões), “Cinema de Animação”, com obras fora do circuito comercial, nomeadamente dos países do Leste da Europa. Mas destacou-se também pela sua intervenção editorial, tendo publicado numerosos artigos e, mais tarde, integrado a equipa fundadora da revista francesa de crítica e ensaio de banda desenhada Phénix. 
Membro do PCP desde o início dos anos 50, Vasco Granja foi preso e condenado pela polícia política do regime fascista em 1954 e 1963, tendo cumprido dois anos de prisão.
Vasco de Oliveira Granja nasceu em Lisboa, Campo de Ourique, a 10 de Julho de 1925. Estudou numa escola do Bairro Alto, em Lisboa, e na Escola Industrial Machado de Castro. Aos 16 anos de idade, encontrou o seu primeiro emprego nos Armazéns do Chiado, como responsável pelas amostras de seda que eram oferecidas às clientes. Algum tempo mais tarde, foi transferido para o departamento de publicidade, quando foi notado pelo seu grande gosto pela leitura e pintava cartazes com anúncios para as montras. Como o ordenado não era suficiente, mudou de emprego para a Foto Áurea, na Rua do Ouro. Trabalhou durante cerca de 14 anos na Casa Travassos, situada no Chiado, meio artístico e literário por excelência na Lisboa de meados do século XX, o que lhe permitiu conhecer diversas personalidades nas tertúlias que frequentava, tanto artistas como escritores. Desses contactos, nasceu o convite para ingressar na Editora Arcádia, no final dos anos 50, onde contactava com autores de grande relevo, como Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão ou Hernâni Cidade, e foi então secretário do director literário da editora, Fernando Namora. Posteriormente, ingressou na Livraria Bertrand onde fica durante cerca de 30 anos e assegura a coordenação editorial e a revisão, trabalhando com autores, tradutores, ilustradores e maquetistas. A paixão pelos livros e pelo cinema acompanhá-lo-ia durante toda a sua vida. Na adolescência visitava com frequência a Biblioteca Pública do Príncipe Real e a Biblioteca Nacional, que estava aberta aos jovens. Interessava-se já por cinema, museus, pintura e pelo desporto.
Na sua juventude não perdia as “sessões contínuas” das salas de cinema de Lisboa. A sua formação decorreu assim de forma autodidacta, em função da sua curiosidade, dos seus gostos pessoais grandemente incentivados pelos pais e da sua sede de conhecimento.
Durante a infância apaixonou-se pelo cinema. Como na altura não existia classificação etária nos cinemas, percorreu todos os que existiam em Lisboa. No decorrer dos anos 50 associou-se ao movimento cineclubista, que era uma frente cultural de combate antifascista. Em Lisboa, participava no aluguer de salas e na projecção de filmes obtidos através das embaixadas, em formato de 16 milímetros. 
Em 1954 foi detido pela PIDE, em consequência do dinheiro dos bilhetes para esses filmes se destinar a financiar a Resistência ao regime, e esteve preso durante seis meses nas prisões do Aljube e Caxias.
Em Caxias, foi punido com a pena de 30 dias de proibição de correspondência por ter dirigido uma carta ao diretor da cadeia de Caxias "fazendo alusões mal intencionadas, falsas ou deturpadas".
Em 1960 esteve presente no festival de animação de Annecy, em França, a representar Portugal. Durante essa viagem, a primeira fora do seu país, ganhou uma nova paixão pela animação. O cineasta canadiano de animação Norman McLaren tornou-se o seu maior ídolo. Viria a conhecê-lo pessoalmente.
Em 1963 foi novamente detido pela PIDE, devido à sua ligação na altura ao Partido Comunista Português, mais concretamente à célula comunista dos cineclubes. Esteve preso durante 16 meses, tendo cumprido parte desse tempo em Peniche. Na prisão, foi submetido a várias torturas físicas e psicológicas.
A partir de 1968 integrou a equipa de redacção da revista portuguesa de divulgação de BD, essencialmente franco-belga, "Tintin", vindo mais tarde a ser seu Diretor.
Em 1974, deu início na RTP a um programa de televisão, denominado "Cinema de Animação", que viria a prolongar-se por 16 anos, com mais de mil programas transmitidos. Nesses programas, dava a conhecer a animação de todo o mundo, desde aquela que era realizada nos países do leste da Europa, até à proveniente da América do Norte. Pretendia, com o seu programa, divulgar, para além da própria animação, uma mensagem de paz, que considerava estar presente em muitos dos filmes da Europa de Leste que transmitia.
Ainda em 1974, foi membro do júri do Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême.
Em 1975, criou um curso de cinema de animação, a partir do qual viria a nascer a Associação Portuguesa de Cinema de Animação.
Em 1980, foi membro do júri da quarta edição do “Animafest “ , o Festival Mundial de Animação de Zagreb, realizado na então Jugoslávia. Participara já como observador neste festival na edição de 1974, logo após o 25 de Abril.
Permaneceu na RTP até 1990. 
Publicou 1981 Dziga Vertov, Livros do Horizonte, Lisboa. 1981.
Em 2003, foi publicada a obra Vasco Granja - Uma Vida... 1000 Imagens, Vários Autores, Edições ASA, Porto.
Recebeu diversos prémios, como o Prix Saint-Michel (Bruxelas), a Medalha de Honra da cidade da Amadora, o Troféu de Honra do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora ou o Prémio Pro-Autor da Sociedade Portuguesa de Autores.
Foi homenageado na Festa do Avante! de 2006 com a realização de um ciclo de cinema de animação, que lhe foi dedicado.
Morreu no dia 4 de maio de 2009, aos 83 anos.
Em 2020, teve lugar na Bedeteca (Biblioteca Municipal da Amadora) uma exposição com imagens, objectos e memórias, construída a partir do vasto espólio da família.

(Dados biográficos cdidos a Helena Pato por Cecília Granja.