Nasceu em Setúbal, filho de Gonçalo Rebelo e de Leopoldina Amélia, atribuindo-lhe o Registo Geral de Presos da polícia política a data de nascimento de 24-06-1900 ou de 24-12-1900.
Viveu a maior parte da sua vida em Cacilhas, tendo a profissão de pescador.
Ainda jovem, perfilhou os ideais libertários, sendo, com Francisco Rodrigues Franco, um dos organizadores da Associação de Classe dos Trabalhadores do Mar, de Setúbal, mais conhecida pelo nome atual da sua sede, a “Casa dos Pescadores”. Participou ativamente nos movimentos sociais dos pescadores, dos marítimos e das fábricas de conservas, colaborando também na cooperativa dos pescadores, cujos barcos de pesca receberam nomes de anarquistas famosos (como Kropotkin, Francisco Ferrer ou Emilio Zola). Essas “Companhas Livres” ou “Cercos Libertários” vendiam o produto do trabalho coletivo e distribuíam as receitas em pé de igualdade por todos os pescadores que as integravam.
Em 1918, instaurada a ditadura de Sidónio Pais, Jaime Rebelo, Francisco Franco, Alfredo Bilha, Norberto Valedo, José dos Reis Couto, António Casimiro, José Quaresma e outros foram presos, espancados e chicoteados, antes de serem enviados para os calabouços do Governo Civil de Lisboa e, alguns deles, para o Forte de Monsanto.
Em 1928, acusado de assalto ao quartel do Regimento de Infantaria 11, em Setúbal, foi condenado em Tribunal Militar e deportado para Angola, onde apenas cumpriu parte da pena.
Em 8 de abril de 1931, quando estalou uma greve dos marítimos em Setúbal, a chamada "greve dos 92 dias", contra a carestia de vida, o aparelho repressivo fascista assaltou a “Casa dos Pescadores”, tendo então Jaime Rebelo conseguido salvar documentação importante que se encontrava na sede da Associação de Classe. Entretanto, Jaime Rebelo e Francisco Franco seriam chamados ao Capitão do Porto que pretendeu prendê-los. Apercebendo-se do perigo, atiraram-se à água depois de soltar o grito: Viva a greve!
Jaime Rebelo será novamente detido pela PVDE em 2 de fevereiro de 1934, “vindo do Comando da Polícia de Setúbal”, acusado de ter tomado “parte nas reuniões preparatórias dos acontecimentos revolucionários que eclodiram em Setúbal em 18/1/934.”
Temendo não conseguir resistir às torturas que sofreu e poder vir a denunciar os seus camaradas, terá cortado a língua com os próprios dentes (outras versões referem que o terá feito com uma lâmina que trazia escondida no tacão dos sapatos). E, na verdade, os esbirros da polícia só voltam a interroga-lo a 23 de fevereiro.
Esta atitude de corajosa resistência tornar-se-ia memorável – Jaime Cortesão dedicou-lhe o poema “Romance do Homem da Boca Fechada” (ler poema em anexo), que viria também a ser publicada no jornal avante!, Série II, n.º 56, 4.ª semana de Outubro de 1937, assinalando que esse episódio teria ocorrido em fevereiro de 1934, quando Jaime Rebelo foi preso, acusado de estar implicado na “greve geral revolucionária” de 18 de Janeiro.
Foi condenado pelo Tribunal Militar Especial na pena de “4 anos de desterro em local à escolha do Governo, multa de 8.000$00 e perda de direitos políticos por 10 anos.” Enviado para a Fortaleza de S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, nos Açores (1), em 23-09-1934, regressou em 07-01-1936, “ficando em liberdade com residência fixada em Setúbal”.
Partiu para Espanha em maio de 1936, instalando-se primeiro em Saragoça. Alistou-se na Confederação Nacional do Trabalho (CNT), organização de sindicatos autónomos de orientação anarcossindicalista.
Os anarquistas portugueses que se bateram contra o golpe franquista, sentiam-se ibéricos e peninsulares e, por isso, integraram as mesmas colunas que os seus camaradas espanhois. Jaime Rebelo participou nas “milicias confederales”, organizadas durante a guerra civil espanhola pela CNT e pela FAI (Federación Anarquista Ibérica). Incorporou a coluna "Tierra y Libertad" da CNT-FAI e participou em diversos combates no centro de Espanha (Talavera de la Reina, Toledo) – como afirmava o dirigente anarquista Buenaventura Durruti, El combatiente no es otra cosa que un obrero utilizando el fusil como instrumento.
Com o avanço das tropas franquistas, Jaime Rebelo segue para Barcelona, onde viveu com Eloísa, uma anarquista basca da qual teve um filho.
Após a derrota republicana, acompanhou os milhares de refugiados que se dirigiram a França (cerca de 500.000 logo após a queda de Barcelona), onde, na sua maioria, foram aprisionados nos chamados “campos de internamento” – Argelès-sur-mer, Barcarès, Saint-Cyprien, Bram, Rivesaltes, Gurs, etc. Jaime Rebelo esteve em Argelès-sur-Mer, Grenoble e depois em Gurs - só neste campo foram recenseados mais de 300 portugueses (ver em anexo placa memorial aos internados no Campo de Gurs).
Regressou a Portugal, tuberculoso, e foi preso de imediato. desta vez na Beirã, freguesia fronteiriça com Espanha, no concelho de Marvão, a 3 de dezembro de 1940.
Transferido para a sede da PVDE em 04-12-1940 (ver fotografia prisional dessa data, em anexo), recolheu à 1.ª Esquadra, sendo transferido para a Cadeia do Aljube em 31-12-1940 e, em 22-02-1941, para a Fortaleza de Peniche. Seria restituído à liberdade em 21-05-1941. Com o apoio de alguns amigos como o António Sérgio conseguiu ser libertado e internado em sanatórios (passou por vários), tendo sido dado como curado em 1953.
Continuou sempre a lutar contra a ditadura do regime fascista do Estado Novo.
A partir de 1968 trabalhou como revisor no jornal “República” (ao lado do companheiro anarquista Francisco Quintal).
Após a morte da sua mulher, reencontrou a anarquista basca que tinha conhecido em Barcelona e viveram juntos os últimos anos de vida.
Depois do 25 de Abril presidiu à primeira Assembleia Geral da (restituída) “Casa dos Pescadores” e participou na constituição da Cooperativa Editora de “A Batalha”, título do jornal diário da CGT. Membro ativo do Movimento Libertário Português (MLP) participou na criação do jornal “A Voz Anarquista”, editado pelo Centro de Cultura Libertária de Almada.
Jaime Rebelo faleceu a 7 de janeiro de 1975.
(1) Aparece incluído numa listagem anónima de presos e deportados para S. João Baptista, em Angra do Heroísmo, enviada a Bernardino Machado, em que o marítimo Jaime Rebelo, aparece referido como tendo sido preso em 20-07-1928 e deportado em 22-08-1928, constando a seguinte referência a ele e outros elementos incluídos nessa lista: “Já estiveram em África”.