Corajoso combatente pela liberdade, pela justiça e pela democracia, na Resistência. Começou muito cedo a ser perseguido pela PIDE, mas nada o travou na forma intransigente e constante com que lutou contra a Ditadura. Esteve preso, foi barbaramente torturado, encarou com grande dignidade a brutalidade e as pressões da polícia, e cumpriu 9 anos de prisão nas cadeias fascistas. Após o 25 de Abril foi um destacado dirigente do PCP.
Octávio Floriano Rodrigues Pato nasceu em Vila Franca de Xira, a 1 de Abril de 1925 e aos 14 anos de idade começou a trabalhar como empregado de uma sapataria.
Com um grupo de jovens de Vila Franca de Xira cria um jornal, escrito e distribuído à mão, em papel quadriculado, com o título «Querer é Poder». O jornal foi um dia lido pelo seu irmão Carlos Pato, que estava ligado ao Partido Comunista Português, e que o mostrou a Dias Lourenço, responsável pela organização local do partido em Vila Franca. Daí até entrar na Federação da Juventude Comunista Portuguesa passou menos de um ano. Tinha então 15 anos de idade.
Pouco depois, em 1940, e com a libertação de um grande número de militantes, entre os quais Álvaro Cunhal, Militão Ribeiro, Sérgio Vilarigues e Pires Jorge, iniciou-se no PCP a reorganização de 1940-41. Octávio Pato passou a fazer parte do Comité Local de Vila Franca de Xira e do Comité Regional do Baixo Ribatejo.
Na região de Vila Franca participou activamente na organização das greves de Maio de 1944. Segundo testemunho do próprio Octávio Pato, esta ação, que incluiu milhares de trabalhadores, resultou de um trabalho que levou meses, orientado para a mobilização das classes trabalhadoras, envolvendo a distribuição de milhares de manifestos feitos clandestinamente. Teve de facto uma participação intensa, quer na preparação e organização, quer no desencadeamento da greve. Ocupou-se de aspectos relacionados com a greve, designadamente no que respeita à mobilização dos trabalhadores assalariados agrícolas das lezírias do Tejo. Deram-se nessa altura centenas de prisões, concentrando as forças repressivas, na praça de touros de Vila Franca, mais de um milhar de grevistas presos. Foi assinalável o seu papel na organização do amplo movimento de solidariedade e apoio popular aos grevistas e suas famílias.
Mais de um ano passado sobre as greves de 8 e 9 de Maio de 1944, perseguido pela PIDE, foi obrigado a passar à clandestinidade, passando a dirigir as organizações juvenis e estudantis do partido (1945). Por essa altura, ficava em casas de amigos. Em meados de 1945 dormia na Farmácia do Sr. Baptista, pai da Ermelinda Cortesão, situada no Rego, na Francisco Tomás da Costa.
Em 1946, a sua situação entretanto altera-se, e passou a haver condições para actuar de forma mais ou menos legal. Octávio Pato continua a ser funcionário do Partido, mas muda o nome para «Octávio Rodrigues» e desenvolve alguma acção na legalidade, sem que a PIDE o identifique. Chega a discursar no cemitério dos Prazeres, numa sessão sobre o 31 de Janeiro, em homenagem ao Magalhães Lima. É então um dos fundadores e dirigentes do MUD Juvenil (Movimento de Unidade Democrática Juvenil). Tinha reuniões com jovens do MUD Juvenil e, em alguns casos, procurava ter encontros com dirigentes do PCP nas várias regiões, para coordenar acções, ouvir opiniões sobre quadros, promover reuniões com vista à implantação do Movimento nessas regiões. Esta acção semi-legal, como membro da Comissão Central do MUDJ, durou apenas até meados de 1947. Depois há de novo um recuo, e Octávio Pato é forçado a avançar para uma situação de clandestinidade mais rigorosa, dada a repressão que foi sendo desencadeada. O «Octávio Rodrigues» deixou de aparecer nas reuniões do MUDJ, só ia às reuniões com membros do Partido.
Referenciado pela polícia política, entra na mais rigorosa clandestinidade. No MUDJ ficara amigo de Mário Soares (que «teve um papel importante no movimento académico em Lisboa e na formação do MUD Juvenil») e, em meados de 1946, a família de Mário Soares deu-lhe guarida num anexo do Colégio Moderno, um dormitório de alguns estudantes internos. Aí esteve alguns dias, para passar depois a dormir noutras casas de amigos. Passou a integrar a Direcção da Organização Regional de Lisboa do PCP.
Em 1949 foi eleito para o Comité Central como membro suplente. Em 1951 passa a membro efectivo. Entre as tarefas que lhe foram designadas destacam-se as de controlar as tipografias clandestinas centrais do Partido, bem como trabalhar nas Direcções Regionais de Lisboa, do Norte e do Sul, assim como na redacção do jornal «Avante!».
Em Dezembro de 1961 é preso pela PIDE, condenado a 8 anos e meio de cadeia, indefinidamente prorrogáveis por «medidas de segurança». Durante esse período é espancado e torturado, impedido de dormir durante 18 dias e noites seguidos, recusando-se a responder a quaisquer perguntas. De seguida, é mantido incomunicável durante mais de 3 meses. Foi espancado no decorrer do próprio julgamento no tribunal Plenário de Lisboa, em que foi defendido por Mário Soares. Foi condenado a 8 anos e meio de prisão, com «medidas de segurança». É por via de um movimento de solidariedade nacional e internacional que é libertado, em 1970. Após a sua libertação esteve alguns meses em Vila Franca de Xira, regressando de novo à clandestinidade. Pouco tempo depois entra para o Secretariado e Comissão Executiva do Partido Comunista, ficando a seu cargo, entre outras tarefas, a redacção do jornal «Avante!».
Pouco depois do dia 25 de Abril de 1974, Octávio Pato aparece na Cova da Moura, para falar com o general Spínola como o primeiro dirigente a apresentar-se pelo Partido Comunista, num momento em que Álvaro Cunhal ainda não tinha regressado do exílio.
Depois, Octávio Pato foi deputado e Presidente do Grupo Parlamentar do PCP na Assembleia Constituinte, candidato à Presidência da República em 1976, e deputado à Assembleia da República de 1976 a 1991. No PCP foi membro da Comissão Central de Controlo e Quadros de 1988 a 1992.
Foi membro da Comissão Política de 1974 a 1988, e do Secretariado do Comité Central de 1974 até ao seu falecimento.
Faleceu em 19 de Fevereiro de 1999. No domingo a seguir ao seu falecimento, 21 de Fevereiro, milhares de sócios e adeptos do Sport Lisboa e Benfica respeitaram, no Estádio da Luz, um minuto de silêncio em memória deste combatente antifascista que iniciou uma luta política intensa de seis décadas quando era jovem futebolista daquele clube.