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Dia Internacional da Mulher

Data

No dia 8 de março de 1962, realizou-se na cidade do Porto a primeira manifestação de rua que pretendeu assinalar em Portugal o Dia Internacional da Mulher.
Conforme noticiou o avante! n.º 314 (Série VI), de Março de 1962, "Pelas 18.30 começaram a juntar-se grupos na Praça da Liberdade. Toda a polícia do Porto estava na rua. A pouco e pouco as pessoas aproximavam-se e começaram a constituir uma grande massa. Perto da rua da Fábrica ressoaram os primeiros gritos. E logo a seguir raparigas e rapazes levantavam largos dísticos com as reivindicações fundamentais da manifestação: AMNISTIA! PAZ, SIM; GUERRA, NÃO! VIVA A LIBERDADE! O Hino Nacional cantava-se a plenos pulmões e os gritos à Liberdade, à Paz e à Amnistia convertiam-se em ABAIXO SALAZAR! FORA O FASCISMO!" 
Essa manifestação havia sido convocada por "um grupo de Mulheres Democráticas do Norte", que reclamavam a libertação de militantes comunistas presas e convidavam a que fossem cobertas de flores as campas de Herculana de Carvalho e Emília Verdial, mães de dois dirigentes do PCP. 
As mensagens dos comunicados e panfletos distribuídos, especialmente dirigidas às mulheres, evocavam o 8 de março, "o vosso dia", sublinhando que "em Portugal, a mulher não tem direitos. Vive subjugada e vós bem sentis na própria carne”, sendo "a vida para nós cada vez mais pesada". Outros panfletos afirmavam que “as nossas irmãs, mães e esposas vão concentrar-se no dia 8 de Março. Com elas estaremos ombro a ombro a afirmar a vontade nacional pela paz em Angola, regresso dos soldados, aumentos de salários, diminuição do custo de vida, democracia e liberdade”. E, finalmente, outros dirigiam-se aos “homens honrados” da PSP: “respeitai e deixai desfilar as mulheres do Porto”.
O certo é que algumas centenas de pessoas conseguiram arrancar a manifestação em direção à Rua 31 de Janeiro, onde irrompeu a polícia de choque, cumprindo as ordens de “actuar com energia logo que se verificasse qualquer ajuntamento ou alteração de ordem”: Apareceram “cerca de 200 homens de capacete de aço e espingarda, que entravam em formatura”, “dois carros-tanque, lança jactos”, “três ou quatro pelotões” que levavam à frente um chefe de esquadra e “7 ou 8 carros de rádio patrulha”, conforme relatou o funcionário da Delegação da Polícia do Porto encarregue de acompanhar a evolução da manifestação. Esse funcionário considerou, no entanto, que as patrulhas da PSP “não tinham instruções de como deviam agir ou se as tinham não as cumpriram”...
Na mesma ocasião, o inspetor Coelho Dias da PIDE (aquele mesmo que o general Spínola chegou a nomear, no dia 26 de abril de 1974, Diretor da PIDE/DGS) haveria de acusar a PSP de se atrasar na atuação em que, aliás, “não se verificou (...) a dureza que era aconselhável em tais casos” - “Prova que assim foi o facto de apenas três indivíduos terem recebido tratamentos no hospital por ferimentos ligeiros”.
O artigo do avante! já citado, que se conhece hoje ser da autoria de Margarida Tengarrinha, refere "os gritos das mulheres feridas, o sangue que deixava manchas no pavimento, as lutas que durante cerca de uma hora se travaram, as prisões que foram realizadas".
De acordo com aquele inspetor da PIDE, foram efetuadas na manifestação 13 detenções(quatro mulheres e nove homens), embora o referido funcionário da Delegação da Polícia do Porto admita 17 presos (sete mulheres e dez homens). Assinale-se aqui que o Registo Geral de Presos da PIDE refere, nesse dia, a entrada de 11 presos, dos quais 4 eram mulheres, mas, obviamente, nada diz sobre o tratamento hospitalar de que algumas das presas careceram, nem dá conta das violências de que foram vítimas esses presos, logo no Governo Civil do Porto e na sede da Delegação do Porto, na Rua do Heroísmo.