PRESOS ANGOLANOS
“A primeira vaga de presos angolanos chega ao Tarrafal no dia 25 de Fevereiro de 1962, e é constituída por 18 pessoas; no dia seguinte, 26-02-1962, chegam mais 15 presos. A segunda vaga é de apenas de 3 presos, entrando em 1964. Os presos da primeira e segunda vagas constituíram, com mais outros, o chamado “Processo dos 50” que marcou de forma muito simbólica a nossa Luta pela Libertação. Muitos deles estavam presos desde 1959.
Depois destas vagas, o Campo ficou cinco anos sem receber novos presos, até que a terceira vaga chega a 08-08-1969, com 34 presos, muitos dos quais há anos nas cadeias de Luanda. Uns ligados ao MPLA, outros à UNITA, outros à UPA/FNLA. Os presos da UNITA são fundamentalmente Kiokos, porque a UNITA havia iniciado a sua luta em finais de 1966, na Província do Moxico. É a vaga mais heterogénea, do ponto de vista da filiação partidária.
A quarta vaga data de 14-03-1970 e é constituída por 23 presos, todos estão ligados à UNITA.
A quinta e última vaga, a minha, chega ao Tarrafal a 14-05-1970, com 14 presos.
Dos presos angolanos a serem enviado para o Tarrafal, 11 pertenciam a um grupo político denominado Espalha Brazas (eram, simultaneamente, do ELA – Exército de Libertação de Angola). Outros 8 pertenciam ao ELA. Mais 6 eram do MIA (Movimento Para a Independência de Angola). 3 eram do PLUAA (Partido da Luta Unida dos Africanos de Angola). 6 eram do PCA (Partido Comunista Angolano). 25 eram do MPLA, entre os quais todos os presos do CRL (Comité Regional de Luanda). Cerca de 40 presos eram da UNITA e os restantes da UPA/FNLA.”
(Texto adaptado da intervenção de Justino Pinto de Andrade no Colóquio Internacional Tarrafal – uma prisão, dois continentes, Lisboa, 29 de Outubro de 2008)
PRESOS GUINEENSES
Na madrugada de 13 de Março de 1962, a PIDE e forças militares assaltaram uma casa clandestina do PAIGC nos arredores de Bissau, prendendo Rafael Barbosa e outros dirigentes. A partir dessa investida, sucederam-se numerosas prisões na zona de Bissau e em muitas outras tabancas do interior da Guiné. Conforme esclareceu, a 20 de Setembro desse ano, o governador da Guiné, Peixoto Correia, “daqui resultou um avultado número de prisões de nativos que tiveram de ser instalados, uns, em recintos improvisados em anexo aos Comandos dos Batalhões [Caçadores n.º 237, 238 e 239] e outros na Colónia Penal da Ilha das Galinhas”, acrescentando que “tratando-se de algumas centenas, não convinha mantê-los por muito tempo nas instalações de recurso junto das unidades militares”. Neste sentido, defendeu “a vantagem de fazer sair da Província um certo número de prisioneiros (cem), optando-se naturalmente pelos mais incriminados, isto é, por aqueles que praticaram actos de terrorismo ou a estes estavam directamente ligados”. Foi assim que, a 4 de Setembro de 1962, chegaram ao campo de concentração do Tarrafal, transportados no navio “África Ocidental”, escoltado pelo “Vouga”, 100 prisioneiros guineenses, entre os quais um caboverdeano. Tal tinha sido a pressa da prisão e da posterior deportação que esses presos nem sequer iam acompanhados de qualquer informação sobre a sua situação – como diria o governador da Guiné, “o lapso de tempo em que todos os factos decorreram (…) não permitiu que se organizasse processo”.
PRESOS CABOVERDIANOS
Em Fevereiro de 1959, o administrador do concelho do Tarrafal prestava informação pormenorizada sobre o campo – nessa época afecto a presos de delito comum de origem caboverdeana – com a particularidade de referir expressamente um edifício destinado a “isolamento, denominado Frigideira”…
A 12 de Maio desse mesmo ano, a mando do governador de Cabo Verde, o administrador do Tarrafal é posto de sobreaviso contra “determinada seita, cuja actividade verdadeiramente se desconhece, mas cujo fim principal é malquistar as diversas camadas sociais da população”. Trata-se “de tal gente a que o povo chama rebelada”, conforme se pode ler na denúncia que o pároco do concelho faz no ano seguinte, exigindo que dali sejam “retirados os chefes desta gente.”
Mais tarde, iniciada a organização e mobilização do PAIGC em Cabo Verde, as autoridades coloniais pretendem combater os “terroristas” e evitar o “contágio” da luta na Guiné às Ilhas de Cabo Verde, temendo especialmente um “possível desembarque de elementos do AMÍLCAR CABRAL”.
E assim, em 1968, são remetidos para o Tarrafal os primeiros presos políticos caboverdeanos, a que se seguem novas levas em 1970 e 1971.