Amílcar Lopes Cabral nasceu na Guiné-Bissau, em Bafatá, em 12 de setembro de 1924, sendo filho de Juvenal Lopes Cabral, intelectual e escritor cabo-verdiano, e de Iva Pinhel Évora.
A família regressou a Cabo Verde no ano de 1932, e em 1937 Amílcar Cabral já se encontrava a estudar no Liceu Gil Eanes, em São Vicente, onde escreveu os primeiros cadernos de poesia. A grande seca e as fomes de 1941 e 1942, que assolaram as ilhas sob administração colonial, levou-o à decisão de se tornar engenheiro agrónomo.
Em 1945 parte para Lisboa com uma bolsa de estudo para o Instituto Superior de Agronomia. Participa com outros estudantes das colónias portuguesas em atividades orientadas para a descoberta da cultura africana, nomeadamente na Casa dos Estudantes do Império. É um dos fundadores, com Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro, do Centro de Estudos Africanos, que reúne a partir de 1951 na casa de família de Alda do Espírito Santo. Destes encontros nasce um movimento literário, influenciado pelos ideais da Negritude, e dá-se a afirmação da identidade africana - fase que Cabral viria a descrever como a “reafricanização dos espíritos” – indispensável à formação dos futuros dirigentes dos movimentos pela independência. Estabelece igualmente estreita ligação com o Clube Marítimo Africano, cujos sócios permitem assegurar relações clandestinas com os diferentes territórios coloniais.
Em 1952 o engenheiro agrónomo chega ao seu país de origem e, como técnico ao serviço da administração colonial, realiza o Recenseamento Agrícola da Guiné, que lhe dá um conhecimento profundo da população e da sociedade guineense, essencial para a estratégia de guerrilha que viria a adotar durante a luta de libertação.
A 19 de Setembro de 1956 cria clandestinamente o Partido Africano da Independência, em Bissau, e assume desde então o cargo de Secretário-Geral. Inicia a fase de mobilização política sob o pseudónimo de Abel Djassi. Continua a colaborar estreitamente com Mário Pinto de Andrade na construção e afirmação dos valores nacionalistas, no MAC (Movimento Anti-Colonialista), na FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional ) e na CONCP (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas), ao mesmo tempo que desenvolve rigorosamente o processo de crítica e julgamento do colonialismo português, denunciando os seus crimes no plano internacional.
Entre 1956 e 1959, Amílcar Cabral realiza diversos trabalhos em Angola na área do estudo dos solos, participando também em atividades clandestinas relacionadas com os movimentos independentistas angolanos, colaborando, designadamente, na criação do que viria a ser o MPLA.
Em 1963, frustradas todas as tentativas de diálogo com o poder colonial português, determina a passagem da ação diplomática à ação direta e à luta armada, sendo o principal responsável pela organização da estratégia militar e diplomática, coadjuvado por outros dirigentes do PAIGC, como Aristides Pereira e Luís Cabral, e por um conjunto de responsáveis militares nas três frentes de luta, entre os quais Francisco Mendes, Nino Vieira, Pedro Pires e Carmen Pereira.
Em 1968, Amílcar Cabral descrevia a Guiné como um Estado independente, consideradas as extensas zonas libertadas, embora ainda com uma parcela do território nacional, circunscrita aos centros urbanos, ocupada por forças estrangeiras.
A luta que dirige obtém crescentes vitórias políticas e militares, granjeando crescente apoio e reconhecimento internacionais.
No plano teórico, desenvolve a ideia de resistência cultural como uma arma contra o colonialismo. A luta armada de libertação nacional significava para Cabral, simultaneamente, um facto e fator de cultura, e o verdadeiro regresso do povo à sua história, sem o qual não poderia alcançar a emancipação e independência.
Defendeu a unidade entre a Guiné e Cabo Verde, considerando o relacionamento histórico entre os seus povos e tendo também em vista a viabilização das suas independências.
Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri no dia 20 de janeiro de 1973, quando regressava a casa. Os que o mataram, designadamente Inocêncio Kani, eram elementos do próprio PAIGC, que se tinham posicionado contra a direcção do Partido por influência de elementos infiltrados, manobrados pelos colonialistas e, em especial, pela PIDE.
Entretanto Aristides Pereira assume o cargo de Secretário Geral, e o PAIGC proclama a independência da Guiné-Bissau em Madina do Boé, a 24 de setembro de 1973, escassos meses após a morte de Amílcar Cabral.
A independência da Guiné-Bissau é reconhecida por Portugal em 10 de setembro de 1974 e Cabo Verde ascendeu à independência em 5 de julho de 1975.
O sonho da unidade entre a Guiné e Cabo Verde, que acompanhou Amílcar Cabral ao longo da vida, viria a soçobrar em 1980.
Agradecimento a Iva Cabral