Combatente contra a ditadura de Salazar, perseguido e torturado pela PIDE, é um poeta nascido em Cabo Verde e que faz parte da história da Literatura Portuguesa do século XX. Nem portugueses, nem cabo-verdianos prescindem da memória de Daniel Filipe – ela pertence aos dois países irmãos: a Cabo Verde porque ali nasceu, a Portugal porque aqui viveu, sofreu, amou e escreveu a sua poesia, de enorme grandeza.
Daniel Damásio Ascensão Filipe nasceu em Cabo Verde, a 1 de Fevereiro de 1925 e morreu em Lisboa, a 6 de Abril de 1964. Chegou a Boavista ainda criança – com cerca de 2 anos de idade – levado pelo pai, aí deportado, o Coronel médico, Gonçalo Monteiro Filipe. A mãe, Rita Maria Ascensão, era natural da ilha das Dunas.
Veio para Portugal ainda criança, onde acabaria por concluir o Curso Geral dos Liceus. Foi co-director dos cadernos «Notícias do Bloqueio», colaborador assíduo da revista «Távola Redonda» e do jornal Diário Ilustrado (1956). Foi também realizador, na Emissora Nacional, do programa literário «Voz do Império». Trabalhou na extinta Agência-Geral do Ultramar e na área jornalística.
Grande parte da poesia de Daniel Filipe destaca-se pelo combate ideológico e pelo comprometimento social.
Além dos livros que nos deixou, foi um activista cultural e político. Cordial, amistoso, grande contador de histórias, depressa se relacionou com o grupo de escritores antifascistas Egito Gonçalves, Papiniano Carlos, Luís Veiga Leitão e outros. Com este grupo ajudou a criar as «Notícias do Bloqueio», título de um poema de Egito Gonçalves e de uma série de nove fascículos de poesia, publicados no Porto entre 1957 e 1961. A PIDE prendeu-o porque animação cultural, para o regime de Salazar, significava agitação social, mas também por outras actividades antifascistas, e sabe-se que foi torturado.
Morreu em Lisboa, muito novo, aos 39 anos, mas deixou uma obra consistente marcada por sentimentos de solidão e exílio. Estreou-se em livro no ano de 1946 com «Missiva» e ficou conhecido sobretudo pela «Invenção do Amor», um poema muito declamado nos anos 60 do século XX – ainda que sob censura e ameaças da polícia política – em saraus poéticos e em manifestações nas Universidades portuguesas e nos teatros de intervenção. Foi realmente um dos poemas ícones de protesto contra o regime salazarista.
Para além desse emblemático poema que marcou uma época, e que foi publicado pela primeira vez em 1961, sob forma de opúsculo, Daniel Filipe, deixou extensa e densa obra.
Obteve o Prémio Camilo Pessanha pelo livro «a Ilha e a solidão» (escrito sob o pseudónimo de Raymundo Soares), no ano de 1957.