banner

 

Fernando Carvalho Giesteira

026685

Manifestantes, na sua maioria jovens, que se tinham concentrado na Praça do Comércio, dirigiram-se ao Cais do Sodré, daí subindo para o Chiado pela Rua do Alecrim.
Ao passarem pelo largo Barão de Quintela, antes de atingirem o quartel dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, um descampado em obras deixava vislumbrar o edifício da sede da PIDE/DGS e, de imediato, houve quem gritasse "Todos à PIDE!".
Os que de algum modo tinham até ali encabeçado aquela manifestação tentaram, em vão, retomar as palavras de ordem com que a tinham animado, em especial “guerra do povo à guerra colonial!” mas a verdade é que dezenas de populares partiram em corrida em direção ao largo do Chiado e penetraram na rua António Maria Cardoso, onde se situava a sede da polícia política (hoje transfigurada em condomínio de luxo...).
Os manifestantes, com gritos “morte à PIDE!” e “assassinos! assassinos!”, percorreram a rua, passando pelo Chiado Terrasse e pelo Teatro S. Luís até investirem contra as portas do edifício da PIDE/DGS.
A polícia política tinha ainda, naquele dia, todas as razões para estar segura da sua plena integração na nova ordem política resultante do golpe militar e, por isso, não pretendia "pactuar com os arruaceiros".
Os principais responsáveis da polícia política e muitos dos seus esbirros assomaram às varandas e janelas da sede e disparam rajadas de metralhadora e tiros de pistola contra os manifestantes (na retaguarda, dispunham ainda, designadamente, de granadas e de metralhadoras pesadas).
Quatro mortos e mais de quarenta feridos são o retrato daquela fúria assassina e do terror que os movia perante a ousadia popular. Os agentes da PIDE nunca foram incriminados.

Nesse dia, a PIDE/DGS assassinou Fernando Carvalho Giesteira, Fernando Luís Barreiros dos Reis, João Guilherme Rego Arruda e José James Harteley Barneto.

Fernando Carvalho Giesteira tinha 17 anos, trabalhava à noite como criado de mesa na Cova da Onça, conhecida “boîte” situada no cimo da Avenida da Liberdade. 
Nascido em Vreia de Jales, Vila Pouca de Aguiar, filho de Amândio Gomes Giesteira, antigo mineiro nas minas da Borralha, e de Emília de Carvalho,

Fernando Giesteira, conforme citado por Fábio Monteiro, havia sido trazido, há quase dois anos, de Vreia de Jales para Lisboa, por intermédio de “um conhecido de um amigo” – sendo certo que aquela “boîte” era pertença de transmontanos.
“Fernando morava já então sozinho num quarto da Pensão Flor”, situada na Praça João do Rio, junto ao Areeiro.
Na manhã de 25 de abril de 1974, no entanto, Fernando terá saído da Cova da Onça e não regressou à Pensão Flor. 
E a verdade é que participou na manifestação que converge para a sede da PIDE/DGS, exigindo a sua rendição. 
Fernando Giesteira, de 17 anos, faleceu devido a uma “laceração do encéfalo por projétil de arma de fogo”, de acordo com o registo de óbito, datado de 30 de abril (!) e omisso quanto às circunstância do seu assassinato pela polícia política.
No funeral realizado na sua aldeia natal, a 28 de abril, o padre da aldeia não hesitou: “Foram os comunistas que mataram o Fernando Giesteira”.

Dados biográficos om base nas informações do Centro de Documentação do Museu do Aljube-Resistência e Liberdade e na obra de Fábio Monteiro, Esquecidos em Abril, 2019 (cuja fotografia aqui se reproduz, com o devido agradecimento)..