Arajaryr Canto Moreira Campos nasceu no Rio de Janeiro a 25 de agosto de 1930, filha de Braz Canto Moreira e de Maria Augusta Campos.
"No dia 27 de Maio de 1959, em casa do tesoureiro da Associação General Humberto Delgado, Sr. Horácio Ribeiro, no aniversário da sua filha, tive a honra de conhecer o General. Dias antes, ainda por intermédio de Horácio Ribeiro, chegara-me a consulta: quereria eu ser a secretária de Humberto Delgado? Ao tempo não tinha mais intenção de voltar a trabalhar fora de minha casa, mas confesso que me atraía muito a ideia de cooperar com um homem culto e que era nada menos que o Presidente eleito de Portugal."
Arajaryr Moreira Campos tinha então 29 anos, filha de espanhol e de portuguesa, mas legitimamente carioca, e Humberto Delgado 53 anos.
Afirmava ter acompanhado na imprensa a campanha eleitoral do general Humberto Delgado e, quando ele se refugiou na Embaixada do Brasil em Lisboa, terá entendido que era “um homem perseguido e humilhado” que pretendia acolher-se no país irmão.
No seu texto memorialístico intitulado “Uma Brasileira contra Salazar – Notas de uma Secretária”, editado com introdução, organização e notas de Iva Delgado, é bem evidente a admiração com que acompanha o General, tornando-se sua secretária, a partir de 1 de junho de 1959, e intervindo ativamente no próprio relacionamento (crescentemente difícil) daquele com a comunidade portuguesa exilada no Brasil. Como ela própria assumiu, “vivia de, por e para ele”.
Em janeiro de 1960, Humberto Delgado mudou-se, essencialmente por motivo das suas dificuldades financeiras, do Rio de Janeiro para S. Paulo. Arajaryr não o acompanhou, após o secretariar durante cerca de oito meses e escreveu-lhe uma carta de despedida e de grande agradecimento “ao HOMEM SEM MEDO”, passando ainda assim a enviar, à sua custa, notícias e recortes de imprensa.
Ainda em 1960, no entanto, "organizou a vida pessoal e familiar de forma a trabalhar de novo para Delgado em S. Paulo" (Arajaryr estava “desquitada” e tinha uma filha pequena, Rosângela).
Após a operação Dulcineia (a tomada do paquete Santa Maria por um comando luso-espanhol) e as repercussões internacionais do caso em função do protagonismo assumido por Delgado, este viu-se obrigado a abandonar o Brasil, sempre na perspetiva de voltar clandestinamente a Portugal para dirigir pessoalmente o derrube do regime de Salazar. Nessa circunstância, a 4 de setembro de 1961, Delgado passa uma procuração com amplos poderes a Arajaryr (para ela continuar a representá-lo no Brasil) mas o certo é que ela insiste em acompanhá-lo na ida para Marrocos e suporta a despesa da sua viagem. Ainda assim, perante as dificuldades crescentes da entrada clandestina em Portugal, ela hesita e teme o pior mas, no entanto, acompanha-o até Beja – leva mesmo a farda de general de Delgado cosida no forro do seu casaco.
Fracassada a Revolta de Beja, Humberto Delgado e a sua secretária protagonizam uma retirada rocambolesca através do país – mostrando bem a incapacidade da PIDE – e regressam ao Brasil via Espanha e Senegal.
Os anos seguintes vão ser alucinantes, sendo evidente o crescente cerco policial, quer no Brasil, com um informador da PIDE colocado junto de Arajaryr (de nome Duarte Gusmão, que no seu relacionamento com a polícia política usava o pseudónimo de “Pedro da Silveira”), quer na montagem da “Operação Outono”, envolvendo, entre outros, Ernesto Bisogno e Mário de Carvalho, que construía uma desmesurada teia com vista ao cerco e aniquilamento de Delgado. O General, por outro lado, por razões de saúde, teve de submeter-se a cirurgias urgentes em Praga, que o debilitaram fortemente. Entretanto, a criação da FPLN (Frente Patriótica de Libertação Nacional) e a sua instalação em Argel arrastaram também, a breve trecho, um crescente antagonismo de Delgado com elementos preponderantes da oposição portuguesa. Arajaryr acompanhou ali o General – refere-se ao apoio sempre presente do Presidente Ben Bella e desabafa: “o ambiente aqui, entre os cinquenta portugueses, é o pior que se podia imaginar. Estamos em Argel há mês e meio e não temos tido um único dia de descanso e alegria.”
O cerco concretiza-se e Delgado, cada vez mais isolado, arranca com a sua secretária para uma viagem que os levará até Badajoz, com vista a um suposto encontro com opositores militares portugueses. Escrevem e enviam ainda diversos postais da estação de correios de Badajoz antes de serem atraídos à cilada montada pela PIDE, sendo ambos assassinados, no dia 13 de fevereiro de 1965, a cerca de cinco quilómetros de Villa Nueva del Fresno, nas cercanias de Badajoz, por uma brigada da PIDE integrada por António Rosa Casaco, Casimiro Monteiro, Agostinho Tienza e Ernesto Lopes Ramos.