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Notas biográficas de Amílcar Cabral

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1924 - Amílcar Lopes Cabral nasce em Bafatá (Guiné-Bissau), a 12 de Setembro, filho de Juvenal Cabral e Iva Pinhel Évora.

1932 - A família muda-se para a ilha de Santiago, em Cabo Verde.

1937/38 - Amílcar Cabral entra para o Liceu, em São Vicente. Escreve os primeiros cadernos de poesia.

1941/42 - A seca e a fome causam cerca de 20 mil mortos em Cabo Verde, perante a incapacidade e o desprezo do governo colonial. Amílcar Cabral decide tornar-se Engenheiro Agrónomo. Fundador e Presidente da Associação Desportiva do Liceu de Cabo Verde e, mais tarde, eleito Presidente da Associação de Estudantes.

1944 - Termina o curso liceal com média de 17 valores, vindo a receber uma bolsa que lhe permitirá prosseguir os estudos em Lisboa.

1944/45 - Secretário do "Boavista Futebol Clube" de São Vicente.

1945/46 - Começa os estudos universitários em Lisboa, no Instituto Superior de Agronomia. Simultaneamente, estabelece relações com outros estudantes africanos que frequentavam a Casa dos Estudantes do Império, designadamente Mário Pinto de Andrade, Marcelino dos Santos, Francisco José Tenreiro e Agostinho Neto. Em busca da África que lhes era negada, lançam iniciativas culturais e políticas como o Centro de Estudos Africanos e relacionam-se com o Clube Marítimo Africano.

1949 - Acompanha as movimentações políticas dos oposicionistas ao regime de Salazar, em especial através do MUD Juvenil e do PCP, mas entende rapidamente as divergências que se manifestam quanto ao colonialismo e, concretamente, quanto à afirmação das populações das colónias portuguesas.

1951 - Vice Presidente da "Casa dos Estudantes do Império" (CEI).

1952 - Inicia os trabalhos no Posto Agrícola Experimental de Pessubé (Bissau), que vem a dirigir.

1953 - Publica o “Recenseamento Agrícola da Guiné-Bissau”, resultado de um extenso trabalho de campo que lhe permitiu, também, conhecer e contactar as populações em todo o território.

1956 - A 19 de Setembro, cria clandestinamente em Bissau o PAI (Partido Africano da Independência) e assume desde então o cargo de Secretário-Geral. Inicia a fase de mobilização política sob o pseudónimo de Abel Djassi.

1956-59 - Amílcar Cabral realiza diversos trabalhos em Angola na área do estudo dos solos, participando também em atividades clandestinas relacionadas com os movimentos independentistas angolanos, colaborando, designadamente, na criação do que viria a ser o MPLA.

1957 - Em dezembro, nacionalistas das colónias portuguesas reúnem-se em Paris para analisar a evolução da luta anticolonial, decidindo fundar o Movimento Anticolonialista (MAC). Cabral continua a colaborar estreitamente com Mário Pinto de Andrade na construção e afirmação dos valores nacionalistas, no MAC (Movimento Anti-Colonialista), na FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional ) e na CONCP (Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas),

1959 - Massacre de Pidjiguiti a 3 de Agosto, quando marinheiros, estivadores e trabalhadores das docas avançaram para uma greve, violentamente reprimida por agentes da PSP, da PIDE, militares e funcionários e civis brancos armados, provocando entre 30 e 50 mortos e dezenas de feridos. O Subsecretário do Estado do Exército português, Francisco Costa Gomes, visita a Guiné nesse mês de agosto e escreve que “o agravamento do incidente deu-se devido à falta de preparação dos agentes da PSP que, impotentes para actuar de outra forma, fizeram uso das armas de fogo”. Nesse mesmo ano, Cabral realiza contactos no Congo, Ghana, Senegal e República da Guiné.

1960 - O PAI adopta a designação de PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde). Cabral desloca-se à China, em Agosto, para estabelecer as condições de treino militar de jovens quadros do PAIGC, que serão recebidos na Academia Militar de Nanquim. Cabral dirige ao governo português um Memorando em que propõe negociações, que fica sem resposta. Em Dezembro, é lançado o jornal do PAIGC, "Libertação".

1961 - Em Julho, Amílcar Cabral apresenta uma comunicação nas Nações Unidas sobre a situação da Guiné e de Cabo Verde. Em Setembro, apresenta um Memorando à Assembleia Geral da ONU e, em Outubro, envia uma Carta Aberta ao Governo Português.

1962 - A 12 de dezembro, Amílcar Cabral intervém na IV Comissão da Assembleia Geral da ONU, em que apresenta propostas para "ajudar concretamente o noso povo a libertar-se urgentemente do jugo colonial". Em março desse ano, são detidos vários elementos clandestinos do PAIGC - terão sido capturados cerca de mil militantes e simpatizantes, entre os quais Rafael Barbosa, presidente do partido. Foi também apreendida documentação, designadamente com o planeamento de acções a realizar em pontos-chave de Bissau.

1963 - Frustradas todas as tentativas de diálogo com o poder colonial português, Amílcar Cabral e o PAIGC decidem a passagem da ação diplomática à ação direta e à luta armada, sendo o principal responsável pela organização da estratégia militar e diplomática, coadjuvado por outros dirigentes do PAIGC, como Aristides Pereira e Luís Cabral, e por um conjunto de responsáveis militares nas três frentes de luta, entre os quais Francisco Mendes, Nino Vieira, Pedro Pires e Carmen Pereira. O início da luta armada foi desencadeado pelo PAIGC, a 23 de Janeiro, com um ataque ao aquartelamento português de Tite e diversas embuscadas, designadamente na região de Fulacunda (Buba). Neste ano, realiza-se uma Conferência de Quadros do PAIGC com o objectivo de desenvolver a luta nas ilhas de Cabo Verde - Cabral sempre defendeu a unidade entre a Guiné e Cabo Verde, considerando o relacionamento histórico entre os seus povos e tendo também em vista a viabilização das suas independências.

1964 - 1º Congresso do PAIGC em Cassacá (13 a 17 de Fevereiro). Constituição, em Novembro, das primeiras unidades do Exército Popular. Edição do primeiro livro escolar.

1965 - Inauguração, em Conakry, da Escola Piloto. Em Agosto, realiza-se a visita da primeira missão da ONU às regiões libertadas da Guiné-Bissau. Criação, em Dezembro, das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP).

1966 - Amilcar Cabral visita Cuba. O PAIGC controla já cerca metade do território da Guiné-Bissau.

1967 - A 16 de Julho, início das emissões, a partir de Conacri, da “Rádio Libertação”.

1968 - Ataque ao aeroporto de Bissalanca por um comando do Exército Popular.

1969 - O PAIGC conquista as instalações militares fortificadas de Madina do Boé. Na retirada do destacamento português verifica-se um grave acidente com a jangada utilizada para a travessia do rio Corubal, junto a Cheche, perdendo a vida quase meia centena de soldados. Õ PAIGC organiza de 19 a 24 de novembro, em Conacri, um Seminário de Quadros. O PAIGC controla cerca de dois terços do território da Guiné-Bissau.

1970 - Após a realização em Roma, de 27 a 29 de junho, da “Conferência Internacional de Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas”, o Papa Paulo VI recebeu em audiência, no dia 1 de Julho, Amílcar Cabral (PAIGC), Agostinho Neto (MPLA) e Marcelino dos Santos (FRELIMO) - provocando a ira do governo de Marcelo Caetano. A 22 de Novembro, as tropas coloniais lançam a “Operação Mar Verde”, contra Conacri, na República da Guiné, que é rechaçada.

1971 - Amílcar Cabral, convidado por Olof Palme, denuncia, em Estocolmo, a política colonial do governo português e, em especial, a situação de fome existente em Cabo Verde. Em 6 de Dezembro, o Comité de Descolonização da ONU exprime o seu apoio à futura independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde.

1972 - Amílcar Cabral toma a palavra em nome dos movimentos de libertação na Reunião Cimeira da OUA, realizada em Junho (Rabat) e, em Outubro, discursa, na qualidade de observador, nas Nações Unidas, em Nova Iorque. O Conselho de Segurança reconhece o PAIGC como o legítimo representante do povo guineense. De Agosto a Outubro decorrem eleições nas regiões libertadas, com vista à projetada Assembleia Nacional Popular.

1973 - Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri no dia 20 de janeiro de 1973, quando regressava a casa. Os que o mataram, designadamente Inocêncio Kani, Momo Turé e Aristides Barbosa (estes dois últimos tinham estado presos no Tarrafal...) eram militantes do próprio PAIGC, que se tinham posicionado contra a direcção do Partido por influência de elementos infiltrados, manobrados pelos colonialistas e, em especial, pela PIDE/DGS.

Como sublinhou Pedro Pires, "pensávamos que as pessoas, os nossos camaradas, não chegariam a ponto de cometer aquele crime hediondo de traição. Foi um erro grave de avaliação." (*)

Aristides Pereira assume o cargo de Secretário-Geral, e o PAIGC proclama a independência da Guiné-Bissau em Madina do Boé, a 24 de setembro de 1973, após lançar em todo o território nacional a Operação Amílcar Cabral, que infligiu sérios revezes ao exército colonial português.

2022 - No Mindelo, o Presidente da República Portuguesa agraciou, a título póstumo, Amílcar Cabral, com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade, tendo entregado as insígnias ao Presidente da Fundação Amílcar Cabral e antigo Presidente da República de Cabo Verde, Pedro Pires.

Como se afirma na canção de Daniel Rendall, interpretada pelos Tubarões de Ildo Lobo, Cabral ca morri (Cabral não morreu), Oiça aqui.


(*) In "Comandante Pedro Pires - Memórias da luta anti-colonial em Guiné-Bissau e da construção da República de Cabo Verde", Entrevista a Celso Castro, Thais Blank e Diana Sichel, FGV Editora, 2021.